Título: Empresas investem na gestão de projetos para evitar desperdício
Autor: Marina Faleiros
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. B20

Profissionais da área controlam orçamentos e tempo das ações, que influenciam diretamente nos lucros

Um quarto de todo o dinheiro movimentado no mundo está envolvido em projetos como construção de fábricas, lançamentos de produtos e reestruturações, segundo estudos do Project Management Institute (PMI). "Isso significa cerca de US$ 10 trilhões a cada ano, exigindo muita competência de quem coordena isso, que é o gestor de projetos", diz Ricardo Vargas, autor de oito livros sobre o tema e diretor da empresa de tecnologia A&C. Ele diz que, para se ter idéia da importância de um gestor desta área, nada melhor que um bom exemplo: "Um de meus primeiros projetos foi a reforma de uma grande siderúrgica. Ela gastou, na época, US$ 35 mil para planejar aquele esforço específico, pois cada hora a menos de parada das máquinas poupava US$ 150 mil." Ao final, Vargas lembra que foram economizadas quatro horas, o que pagou o investimento e ainda evitou muito desperdício.

Hoje, diz, todo investimento sério é feito com o apoio destes profissionais, seja, por exemplo, a implantação de uma plataforma de petróleo ou o lançamento de um novo produto de telefonia. "Se existe um uso intensivo de capital, a empresa precisa gerenciar muito bem para concluir da melhor maneira, com menor tempo e custo possíveis", diz.

A A&C atualmente assessora 22 grandes projetos no Brasil. Para isso, tem uma equipe de 700 profissionais espalhados pelo País. "Estamos ampliando nossa atuação, porque as empresas que começam a implantar este sistema não saem mais dele, já que passam a ver os problemas e cenários de forma muito mais transparente."

Exemplo disso é o que acontece na Santista Têxtil. A empresa, em 2002, contratou uma consultoria, que apontou potenciais de melhora justamente na coordenação de seus projetos. "Foi dito que, com isso, ganharíamos mais competitividade. Passamos a estudar os conceitos de gerenciamento, demos cursos e formamos um escritório específico para isso", diz Roberto Carlos Ferreira, gerente de Excelência em Gestão da companhia, que possui 130 gerentes de projeto.

Com isso, o executivo diz que foi possível enxergar melhor os recursos, se os projetos realmente estão em andamento e mensurar o desperdício de horas trabalhadas. "Mas o grande ganho mesmo foi ver se estamos com recursos realmente direcionados para projetos de alta relevância e alinhados com a estratégia da organização."

O controle de riscos é outro destaque na Santista, diz Ferreira. "É raro ver empresas que realmente param para definir riscos e planos, caso o cenário que esperávamos não aconteça. Mas se é um projeto importante, temos de prever qualquer problema."

A Volkswagen acredita tanto na importância de profissionais nesta área que até mesmo já formou cerca de 60 mestres em gerenciamento de projeto. "Investimos cerca de US$ 10 mil em cada funcionário desse, pois trouxemos profissionais dos EUA que já tinham tido experiência no setor automobilístico", diz Raimundo Ramos, gerente de RH da Volks.

Para ele, esta é uma das melhores ferramentas para se evitar surpresas no orçamento. "Pode reduzir custos, pois identificamos as melhores práticas e criamos uma metodologia que toda a empresa entende", diz ele, comentando que todas as áreas, como RH, finanças, marketing e vendas, tiveram funcionários treinados.

Ramos diz ainda que o planejamento vai além da criação de um novo carro. "O carro vai para a linha de montagem e tem de chegar ao cliente. Se fizermos isso no menor tempo possível, com custo adequado e qualidade, agregamos valor ao produto."