Título: O jeito brasileiro de usar a internet
Autor: Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. B19

Pesquisa mostra que um grande número de brasileiros usa a web fora de casa, já que muitos não têm computador

A internet brasileira tem a cara do brasileiro. Essa é a conclusão do coordenador de análises do Ibope/NetRatings, Alexandre Magalhães, ao avaliar os dados de outubro de dez países. "É uma web concentrada nas classes A e B, bem ao estilo da distribuição de renda, mas nossa internet tem a ginga e o jeitinho do brasileiro, que teima em ser diferente de todos os países de Primeiro Mundo. Se eles navegam em casa, no conforto do lar, aqui navegamos na escola, na biblioteca, no trabalho." Segundo Magalhães, nos países de Primeiro Mundo, onde a Nielsen/NetRatings faz suas medições, no mínimo 90% das pessoas que têm acesso à internet a usam em casa. No Brasil, onde 32 milhões declaram ter acesso a esse meio de comunicação, 58% a usam na residência, número bem inferior aos outros países analisados: Estados Unidos, Austrália, Japão, França, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido. Na França, por exemplo, 85,4% dos usuários acessaram, em outubro, a internet da residência, porcentual que chegou a 98,4% nos EUA. Magalhães diz, com base em pesquisa Ibope e Nielsen/NetRatings, que a maior diferença entre o Brasil e os países desenvolvidos é a quantidade de pessoas que hoje fazem uso do meio de comunicação em locais públicos, que rivaliza com o uso doméstico (ver tabela). "Nosso internauta não tem dinheiro para bancar o custo de ter um computador, uma linha telefônica e um provedor de acesso, mas não desiste de ser um usuário. Ele usa os vários pontos disponíveis na cidade e navega." O pesquisador, que tem preparado análises sobre o desenvolvimento dessa mídia para o site especializado WNews, diz que o internauta brasileiro tem sido atraído pelos comunicadores instantâneos (MSN Messenger ou ICQ, por exemplo), blogs, fotologs, comunidades (como o Orkut), sites das operadoras de telefonia móvel e salas de bate-papo com muito mais intensidade que os de países desenvolvidos. "O e-mail, embora disseminado no Brasil, não é mais usado do que nos outros países, talvez por ser mais formal do que os outros tipos mencionados. Em outras palavras, os brasileiros são campeões de uso dos comunicadores instantâneos, blogs, fotologs, comunidades e sites de telefonia móvel." Ele dá um exemplo: no Brasil, em outubro, 6,2 milhões de pessoas visitaram a comunidade Orkut, o que representou 52,7% do total de brasileiros que navegaram a partir de suas residências. O segundo país com mais visitantes foi a Itália, com 68 mil, ou 0,39% do total. "O internauta brasileiro tem uma necessidade incrível de se comunicar e divulgar o que pensa." É a essa necessidade que ele atribui o sucesso de iniciativas como o FotoRepórter, do Grupo Estado, mas acha que são poucas as empresas que perceberam esse potencial. Muito do que ocorre na internet brasileira, diz Magalhães, é resultado de termos um usuário jovem e que fica mais tempo navegando que o de outros países. Exemplo: os brasileiros de 12 a 17 anos chegam a ficar navegando quase 42 minutos por cada acesso, ante 34 minutos na França e 26 nos Estados Unidos. "A internet se tornou um meio de inclusão de jovens no Brasil que não têm acesso a outro entretenimento e a usam em cybercafés e na escola. A inclusão ocorre até em lanchonetes, escolas e bibliotecas, ao contrário dos outros países. É o jeitinho brasileiro."