Título: Lula e Kirchner esbanjam otimismo
Autor: Ariel Palacios, Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. B15

Presidentes assinam 23 protocolos, sobre os mais variados assuntos, e criticam empresários pessimistas com o Mercosul

Ariel Palacios

Tânia Monteiro

Enviados especiais PUERTO IGUAZÚ Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner fizeram ontem declarações mútuas de afeto, reforçaram o compromisso da integração bilateral Brasil-Argentina e criticaram os setores empresariais que foram pessimistas com o Mercosul nos últimos anos. Kirchner expressou o desejo de que os dois países superem as assimetrias econômicas e comerciais que causaram vários conflitos ao longo dos últimos 18 meses. Segundo ele, Brasil e Argentina crescerão juntos e levarão toda a região a um "salto qualitativo". Lula completou: "Quanto mais industrializada a Argentina for, mais forte será o Brasil".

Reunidos em Puerto Iguazú, Kirchner e Lula celebraram os 20 anos do encontro entre os ex-presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín, quando foi dado o passo inicial para a criação do Mercosul. Os dois ex-presidentes participaram do evento.

Kirchner e Lula assinaram 23 protocolos que englobam assuntos tão variados como intercâmbio tecnológico na área nuclear, cooperação na área de educação e integração das cadeias produtivas. A reunião marca uma guinada no comportamento duro de Kirchner com o Brasil.

Lula disse que espera, daqui a 20 anos, quando ele e Kirchner tiverem as idades atuais de Sarney e Alfonsín, participar de evento similar, com um Mercosul muito mais integrado. Lula profetizou que nessa ocasião "poderemos ver que os indicadores sociais da América do Sul serão comparados aos dos países mais ricos do mundo".

Os dois presidentes acordaram "advogar conjuntamente no âmbito dos organismos multilaterais de crédito, para evitar a imposição de condições que afetem a capacidade dos governos de promover políticas de crescimento, emprego digno e inclusão social". Nesse ponto específico, Lula declarou apoio a Kirchner, para que este consiga, nas negociações com o Fundo Monetário Internacional, "garantir a reindustrialização de sua economia e preservar os importantes avanços no crescimento e geração de empregos dos últimos dois anos ".

O assunto que semanas atrás prometia ser o prato principal do encontro - a Cláusula de Adaptação Competitiva (CAC) - não foi servido. Diante de impasses para definir o formato da CAC (cujo ojetivo é impedir eventuais invasões de produtos de um país sócio do Mercosul para outro integrante do bloco), os dois presidentes concordaram em continuar as discussões nas próximas semanas.

No documento assinado por Kirchner e Lula, há o compromisso de se esforçar "para concluir, antes do dia 31 de janeiro, um instrumento capaz de evitar o impacto dos desequilíbrios no comércio e assimetrias entre setores produtivos de ambos países e promover a integracão da produção e a expansão equilibrada e dinâmica do comércio bilateral". O mecanismo da CAC foi proposto há meses pelo governo do presidente Néstor Kirchner, mas até agora as discussões não conseguiram o consenso necessário.

FRASE

Mas, de repente, o Corinthians contrata Carlitos Tevez. O cidadão obviamente não é estilo Maradona, nem estilo Ronaldinho, mas o povo também não quer muito estilo, o povo quer muita garra. O que parecia impossível hoje virou uma coisa normal.Os brasileiros vendo nos jogadores argentinos um parceiro.