Título: Boa notícia: comércio cresce até 9,1%
Autor: Alberto Tamer
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. B14

O comércio mundial deverá crescer até 9,1% no próximo ano, bem acima do que estimou para este ano, 7,2%. A previsão é da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as 30 economias mais ricas do mundo. A entidade estima também que o surto comercial deverá manter-se em 2007. Assim, o Brasil poderá sustentar os níveis atuais de exportações para um mercado ávido e em franca expansão, embora continue mantendo uma participação de apenas 1,3% do comércio mundial. A Organização Mundial do Comércio (OMC) é mais cautelosa, prefere trabalhar com uma hipótese conservadora, 7%, mas assim mesmo acredita também nessa expansão.

Não poderia haver melhor notícia para o Brasil, que vem se tornando um parceiro comercial mais ativo no comércio mundial, razão pela qual a própria OMC decidiu acompanhar mais de perto a performance das suas exportações que, neste ano, deverão ficar entre US$ 117 bilhões e US$ 120 bilhões. O grande salto, mais 24% só nos 8 primeiros meses, foi feito nos últimos 2 anos, quando a desaceleração econômica e a chegada ao governo de um representante do setor privado, um empresário com garra e experiência, Fernando Furlan, imprimiram um impulso pioneiro ao comércio exterior.

AINDA SOMOS PEQUENOS

Os dados da OCDE e da OMC nos permitem fazer alguns cálculos para ver como fica a posição do Brasil no mercado mundial. Esse comércio deve movimentar, neste ano, cerca de US$ 8,9 trilhões. Se as nossas exportações chegarem a US$ 120 bilhões até dezembro, o Brasil estará representando 1,3% do comércio mundial. Já é algo, considerando que há anos mal chegávamos a 1%.

Mas e se chegarmos a dar mais um salto e exportarmos US$ 130 bilhões, no próximo ano? Ganharemos uma nova posição, poderemos ter mais peso no mercado internacional? A resposta é um "Não", com letra maiúscula. Se o comércio mundial crescer 9,1%, ele passará a movimentar no próximo ano US$ 9,7 trilhões; e, se as exportações brasileiras alcançarem US$ 130 bilhões, o Brasil estará participando com os mesmos 1,3% do comércio mundial! Ou seja, precisamos exportar US$ 130 bilhões para ficar no mesmo lugar.

Dá pra exportar muito mais? Aqui a conclusão até mesmo do próprio ministro Fernando Furlan: vai ser extremamente difícil ter essa performance, não pela falta de disponibilidade de produtos, mas sim pela conseqüência do desastroso câmbio atual.

Para concluir, estamos melhor do que estávamos porque antes representávamos não mais de 1% do comércio mundial, o que não nos dava muito peso para barganhar, negociar.

A expansão desse comércio em 9,1% vai nos ajudar a exportar mais, sim, a sustentar a economia, mas como estamos partindo de um nível anterior muito baixo, algo aí em torno de US$ 70 bilhões, será preciso um imenso esforço para que o Brasil seja visto não mais como um parceiro marginal de pequeno poder de barganha. E, mesmo com todo o crescimento dos últimos dois anos, com o dólar atual será impossível fazer esse esforço, nem que cheguemos a US$ 150 bilhões.

Eles, todos, saíram na frente e nos deixaram para trás. Só resta aquele consolo dos conformados: poderia ser pior.

ANUÁRIO INDISPENSÁVEL!

E já que estamos no assunto, uma análise mais detida dos dados do comércio exterior pode levar a conclusões muito interessantes sobre o potencial que a área tem no Brasil. Uma nova lista das 50 categorias de produtos mais exportados pelo Brasil indica que 46 aumentaram o valor de suas exportações entre 2003 e 2004, e 25 venderam mais de US$ 1 bilhão em 2004. O valor das exportações desses 46 produtos subiu de US$ 61,369 bilhões em 2003 para US$ 81,291 bilhões no ano seguinte. Isso equivale a um aumento de 32,46% nas vendas.

A lista dos 50 produtos foi construída pela Análise Editorial na sua primeira publicação, lançada em novembro: o anuário Análise - Comércio Exterior. As estatísticas oficiais costumam agrupar os produtos de acordo com suas características genéricas. Assim, madeira e móveis entram numa categoria que inclui, ainda, papel e celulose. A lista Análise é mais completa, focalizou os produtos de acordo com critérios apontados por especialistas dos setores e chegou a uma nova relação de quais são as 50 categorias dos mais vendidos pelo País no exterior. Com isso, na lista Análise, essa mesma categoria se desdobra em três. Papel e celulose ficam em 9.° lugar, com US$ 2,9 bilhões em 2004. Madeira vem no 12.° lugar, com US$ 2,45 bilhões, e móveis em 25.°, com US$ 1 bilhão.

A partir dessa lista pode-se concluir, por exemplo, que o Brasil é líder mundial de mercado em 7 das 50 principais categorias exportadas pelo País. Em 21categorias, fica entre o segundo e o décimo colocados.

Em mais de 300 páginas, o anuário traz 24 mil informações sobre exportação e importação no Brasil e 350 rankings. É o mais profundo levantamento já feito no Brasil sobre esse setor, um excelente e indispensável instrumento de trabalho.

O Análise - Comércio Exterior pode ser encontrado nas principais bancas do País e livrarias.