Título: Lula diz que levaria Dirceu para o palanque
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2005, Nacional, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem a entrevista de uma hora e meia às emissoras de rádio para defender enfaticamente o seu partido, o PT, e o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP). Depois de reiterar que "não disse para ninguém" se será candidato à reeleição, Lula avisou que "levaria José Dirceu para o seu palanque eleitoral, até porque não foi provado nada contra ele", "nem por omissão", assim como não foi comprovada a existência do mensalão. "Sou contra a pena de morte, na política e na vida normal", declarou o presidente, ao reconhecer que "o PT está em uma encalacrada", pois "praticou um erro abominável" - referindo-se ao "crime eleitoral de caixa dois, já provado pela CPI". Mas insistiu que "não sabia" de nada do que estava acontecendo e também não sabia quem sabia - uma vez que o PT não precisava lhe comunicar o que fazia. Lula assegurou que estes problemas não o impedirão de defender o PT e que não ficou "inibido de ser petista". E prosseguiu: "Pelo contrário, agora estou mais orgulhoso". Esses episódios provam, afirmou, que o partido "não é infalível".

Ele foi em frente, na análise do partido: "Cometemos erros, e quando cometemos erros nós temos que pagar e pagar forte, porque a sociedade brasileira precisa nos cobrar sistematicamente, de forma implacável, para que a gente seja uma referência ética neste País. E eu quero estar junto de todos aqueles que estiverem dispostos a fazer isso". Na entrevista, Lula disse que não era possível, em 35 meses, consertar 35 anos, mas assegurou que seu governo está fazendo "a mais forte política social da história do Brasil". Comentou que "o Bolsa Família é quase um milagre" para as populações mais carentes.

Em sua opinião, as eleições foram ganhas "para que os mais pobres pudessem chegar a um padrão de vida minimamente respeitoso. Estamos longe de chegar, mas já avançamos muito", avaliou. Garantiu que não prometeu que iria criar 10 milhões de empregos, mas dar condições para que isso acontecesse. Ao insistir que "não tem pressa em definir" se será candidato, ironizou: "Estou vendo gente aí, de candidato, para tudo quanto é lado e já tem mais candidato do que eleitor".

Ao se referir ao caixa 2, o presidente comentou que "há uma história neste país e o PT não poderia ter entrado nela porque o PT nasceu para combater isso. E quem fez isso praticou um erro abominável contra a história do PT que, agora, vai amargar muitos anos para recuperar a sua história política, a sua credibilidade". Salientou que se sentia "traído porque o PT nasceu para combater essa prática política. O PT não precisava dessa prática política porque não é o dinheiro que faz uma pessoa ganhar as eleições".

Para justificar-se por não saber das denúncias de mensalão ou do caixa 2 no PT, ele comentou que muitos pais de família não sabem o que se passa dentro de sua casa, ressalvando que não fugia da sua responsabilidade. Ao lembrar que foi da oposição, por muito tempo, Lula salientou que "não se queixa" e "não fica chorando" dos ataques que a oposição está fazendo, agora, contra seu governo. Para ele, "isto é um jogo e o PT não tem do que se queixar" pois "tem de aprender a apanhar" já que bateu a vida inteira. Observou que ""A oposição de esquerda era mais light do que a de direita feita a mim", avaliou., dizendo que em certos momentos a direita parece "muito mais raivosa do que a esquerda já foi em qualquer momento histórico do Brasil".