Título: Filho de Alencar diz que PT pagará, e com dinheiro limpo
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2005, Nacional, p. A7

O empresário Josué Gomes da Silva, filho do vice-presidente José Alencar, afirmou ontem que não vai acionar o PT na Justiça porque tem total segurança de que receberá a dívida do partido com a empresa da família, a Coteminas. Acredita também que, desta vez, o dinheiro virá limpo. "Você acha que depois de tudo, eles (dirigentes do PT) vão tentar nos pagar com caixa 2?", indagou. A cúpula do PT propôs a Josué pagar o débito em 48 meses, ou 4 anos. Presidente da Coteminas desde o afastamento do pai, em 2002, o empresário não aceitou. Atualizada pela taxa Selic e demais encargos financeiros, a dívida contraída pelo PT com a compra de 2,75 milhões de camisetas, para campanhas municipais de 2004, chega hoje a R$ 12.279.036,31. Do total calculado por Josué, que enfatiza até os centavos da conta, já está descontada a parcela de R$ 1 milhão, paga em maio passado com dinheiro do caixa 2 petista.

"Todos os dirigentes do partido confirmam categoricamente que devem e vão pagar", disse o presidente da Coteminas. "Ficamos de voltar a conversar com a direção da empresa no início do ano que vem", contou o atual tesoureiro do PT, Paulo Ferreira. "Tão logo ultrapassemos as dificuldades financeiras deste fim de ano, vamos formalizar uma proposta compatível com nossas possibilidades." Ferreira confirmou que tentará rediscutir os juros da dívida com a Coteminas, o maior credor do partido. "Até o PT vai ao mercado para obter taxas de juros menores."

Josué prestou ontem depoimento por mais de uma hora à Polícia Federal, no inquérito que investiga o caixa 2 do PT. Entregou documentos que comprovam a venda das camisetas e o pagamento de R$ 1 milhão, além da troca de correspondências da empresa com o partido para prorrogação do prazo de quitação do débito.

Na terça-feira, Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, apresentou nova versão para o repasse de R$ 1 milhão à Coteminas. Disse que havia se equivocado ao tratá-lo como oficial porque a cifra "tinha origem origem nos empréstimos feitos por Marcos Valério ao PT". A CPI dos Correios desconfia desta versão. Josué, por sua vez, negou conhecer a origem do dinheiro recebido do PT e insistiu que isso não é problema seu.

"Se eu for buscar de cada cliente qual a origem dos recursos com que me pagam, vou ser autoridade constituída do País", alegou. "Como eu vou questionar de algum cliente da Coteminas - e são milhares - se ele está com a escrita em dia?"

FOGO AMIGO

Antes do depoimento à PF, Josué declarou que concorda com as críticas do pai à política econômica, sobretudo aos juros altos. "Uai! Ocês não têm visto minhas declarações?", perguntou ele, com carregado sotaque mineiro. Josué disse desconhecer a hipótese de fogo amigo por parte do Ministério da Fazenda, em retaliação às estocadas de Alencar. "Só se eles tiverem vocação de dar tiro no próprio pé. Será que esse pessoal está querendo dar tiro no próprio pé?", questionou. "Isso seria fogo amigo lusitano, porque atingiu em cheio o PT", definiu, em tom irônico, um ministro do partido.

No depoimento, Josué também negou a suspeita, surgida na CPI, de que o negócio tenha sido um empréstimo da Coteminas ao PT. "Somos uma empresa e vendemos a prazo para todo mundo, inclusive por longo tempo. Não houve nenhum prazo excepcional para o PT."