Título: Agricultores reclamam e culpam o dólar barato
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. B8

O agricultor Nelson Schreiner costumava reservar parte da receita com a produção de grãos para renovar máquinas de sua fazenda, em Itapeva, no sudoeste paulista. Os equipamentos são indispensáveis para uma área de de mais de mil hectares. Em 2003, graças aos bons preços da soja, ergueu um conjunto de silos. O ano passado passou em branco e este também vai terminar sem que tenha comprado uma única máquina. "Não teve jeito, não sobrou nada." Para ele, o principal culpado da queda do desempenho do agronegócio no PIB foi o dólar. Atrelados à moeda americana, os preços da soja e do trigo também despencaram. Com isso, embora o volume da produção tenha sido quase o mesmo, os valores recebidos pelos agricultores caíram praticamente na mesma proporção da queda do dólar. "Quando vendemos a safra de 2003, o dólar estava a R$ 3,20, ante os R$ 2,20 atuais."

Já o custo de produção não caiu tanto porque os insumos (combustíveis, sementes e fertilizantes) não seguiram o dólar.

Em quase cinco décadas de agricultura, Schreiner enfrentou várias crises e sabe que o desempenho do setor é cíclico. "Depois de um período ruim, as coisas melhoram."

Apostando nisso, manteve a área de produção da safra passada - 500 hectares de milho e 500 de soja. Só está preocupado com a crise política. "Pode complicar a situação por um tempo maior do que o agricultor possa agüentar."

O produtor rural Frederico D'Avilla, da Fazenda Jequitibá do Alto, ainda amarga o prejuízo que teve com o trigo na última safra, estimado em R$ 200 por hectare. Além dos preços baixos, a produção foi menor. Após investir na compra de máquinas, pisou de vez no freio e nada adquiriu nos dois últimos anos. Estuda até uma medida drástica: arrendar as terras para usinas de cana de açúcar.