Título: País é o lanterninha dos emergentes
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. B8

Na lista da revista 'The Economist', crescimento do Brasil está em último lugar entre as economias em desenvolvimento

O Brasil mantém o título de lanterninha do ranking de crescimento dos países emergentes. O País está em último lugar no índice de crescimento de mercados emergentes, publicado pela revista britânica The Economist semanalmente. Enquanto países como a Índia, China, Venezuela e Argentina cresceram mais de 8% no terceiro ou segundo trimestre (em comparação com o mesmo trimestre do ano passado), o Brasil cresceu apenas 1%. Segundo previsão do Fundo Monetário Internacional, os países emergentes vão crescer, em média, 6,4% em 2005 - mais que o dobro do Brasil, que deve crescer só 3% este ano. "Até os Estados Unidos cresceram mais (3,7% no trimestre) - e olha que acabamos de ter o furacão Katrina", nota Christian Stracke, estrategista de mercados emergentes da consultoria americana CreditSights.

Mas por que todos os países vêm se aproveitando do cenário internacional muito positivo, mas o Brasil continua na rabeira? Segundo Stracke, o País tem sérios obstáculos estruturais, os famosos gargalos, que o impedem de ter um crescimento acima de 4% sem produzir inflação. Por isso, o governo precisou adotar uma política monetária bastante restritiva para evitar a inflação e ela breca o crescimento. "Tivemos um boom de crescimento alimentado pelas ótimas condições externas - mas esse crescimento bateu contra uma parede de obstáculos como a falta de infra-estrutura, que resultaram em inflação", diz o economista.

Outros países fizeram uma opção diferente. "Rússia e Argentina vêm registrando alto crescimento, mas com inflação na faixa dos 11%, 12%", diz. "O Brasil poderia ter crescido mais, se aceitasse um pouco mais de inflação. Mas isso seria muito arriscado, em um país com o histórico inflacionário como o brasileiro."

Os gargalos que impedem um salto no crescimento são velhos conhecidos: infra-estrutura precária, falta de capital humano, alta carga tributária, burocracia. "Esses gargalos não são uma exclusividade do Brasil, muitos emergentes sofrem com esses problemas; mas o País tem uma combinação única desses obstáculos, que dificulta crescer a taxas mais altas." Para Stracke, enquanto o Brasil tiver esses gargalos e não melhorar a qualidade do ajuste fiscal - para permitir investimentos em infra-estrutura - será difícil crescer mais do que 3% sem esbarrar em inflação. "É preciso fazer superávit primário com menos dinheiro gasto em Previdência e Bolsa Família, e mais em investimento em infra-estrutura."

INVESTIMENTO

Para Michael Gavin, economista-chefe para a América Latina do UBS Investment Bank, não é motivo para preocupação o desempenho pífio do PIB brasileiro no terceiro trimestre (queda de 1,2% em comparação com o trimestre anterior e crescimento de 1% em relação ao terceiro trimestre de 2004). "Trata-se apenas de um desvio cíclico criado pela política monetária apertada, necessária para segurar a inflação. Não indica uma tendência", diz Gavin.

Segundo ele, o fator importante, e preocupante, são as tendências de médio prazo. "O País precisa elevar sua taxa de investimento para aumentar seu crescimento potencial", diz o economista. "A atual taxa de investimentos - em cerca de 19% do PIB - não é suficiente para gerar mais do que 3,5% de crescimento anual."

A outra maneira de aumentar o potencial de crescimento da economia é elevar sua produtividade. Mas, para isso, seria necessário realizar reformas que reduzam a burocracia e carga tributária. "O que dificilmente vai acontecer nos próximos 12 meses", diz Gavin.

Segundo economistas, o País aproveitou a maré internacional positiva para fortalecer as contas externas, reduzir a inflação com o dólar baixo, e aumentar o nível de reservas. Mas não se aproveitou da bonança mundial para aprovar reformas estruturais e aumentar a taxa de investimentos.