Título: Poucas obras. Verão terá enchentes
Autor: Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2005, Metrópole, p. C1

A poucos dias do início do verão, duas armas estratégicas na política de combate e prevenção às enchentes na capital tiveram gastos, até agora, inferiores a 10% dos recursos previstos para o ano. Até o dia 30, a Prefeitura havia investido em canalização de córregos apenas 2,9% (R$ 1,5 milhão) dos R$ 53 milhões orçados. Em relação a ações em áreas de risco, de uma verba de 11,5 milhões, foram liquidados (serviço feito e com pagamento autorizado) R$ 1,1 milhão (9,6%). Na contramão do ritmo de investimentos estão os problemas. Só no orçamento deste ano há uma lista de 40 córregos esperando por canalização. Em toda a cidade, há mais de 500 áreas de risco. São 36 mil moradias, sendo 11.500 consideradas de risco alto e muito alto.

Os dados sobre a aplicação de recursos são do Sistema de Execução Orçamentária (Novo SEO) e foram levantados, a pedido do Estado, pela assessoria do vereador Paulo Fiorilo (PT). O balanço mostra que se deu prioridade aos serviços de manutenção e limpeza em detrimento da infra-estrutura.

Limpeza de bocas-de-lobo, córregos, galerias e piscinões, por exemplo, consumiu metade (54%) dos R$ 98,1 milhões orçados. Com esse dinheiro, foram limpos, segundo a Prefeitura, 53% das 397 mil bocas-de-lobo e 62% dos quase 4 mil quilômetros de galerias, córregos e canais. Reparos de canais e galerias de águas pluviais teve um porcentual maior de gasto: 73,2% dos R$ 19,4 milhões orçados.

Os moradores das duas regiões mais críticas da cidade, as Bacias dos Córregos Aricanduva, na zona leste, e Pirajuçara, na sul, não têm o que comemorar. Os R$ 24 milhões orçados para obras de drenagem ficaram intocados, segundo o levantamento. Nenhum centavo foi aplicado durante o ano todo.

O único investimento representativo em infra-estrutura foi para pequenas obras de emergência: 70% dos R$ 6,6 milhões orçados.

Diante desse cenário, as perspectivas para as próximas chuvas, dizem especialistas em engenharia hidráulica, não são otimistas. Eles dizem que, para obter resultados no combate às inundações, tem de haver investimentos integrados em todas as frentes.

"Tudo tem de ser trabalhado em conjunto. Não adianta só limpar boca-de-lobo, porque a água vai parar mais à frente, em um córrego, por exemplo, que, se não estiver em condições adequadas para fluidez da água, vai transbordar", explicou o professor de engenharia hidráulica do Centro Universitário da FEI, Kurt André Amann.