Título: Palocci: " Foi um ponto fora da curva"
Autor: Tânia Monteiro, Ariel Palácios
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. B4
Para ministro, resultado já era esperado, mas queda foi além do previsto e não significa uma tendência
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, classificou como "ponto fora da curva" a queda de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano. Embora ressalvando que "o resultado já era esperado", disse que a queda "foi um pouco além do previsto". Segundo o ministro, "o importante é que esse resultado não indica uma tendência", já que "o crescimento não vai parar" e a perspectiva é de que haja "um bom crescimento este ano". Palocci, no entanto, esquivou-se de responder se, por causa do resultado negativo, o governo seria obrigado a rever a sua meta de crescimento do ano, que era de 3,4%. "Vamos refazer as contas. Logo estes números serão avaliados e divulgados." As declarações de Palocci foram dadas após a reunião de ministros brasileiros e argentinos em Puerto Iguazú, Argentina, em comemoração aos 20 anos do marco inicial das declaração que deu origem ao Mercosul. Palocci aproveitou para conversar com a nova ministra da Economia, Felisa Miceli, que considerou "pessoa simpática e generosa". "Vamos continuar tendo excelentes relações com a área econômica argentina", comentou. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, não quis responder aos jornalistas sobre os números do PIB.
Palocci, de bom humor, pacientemente repetiu inúmeras vezes que este dado negativo "era natural", que o crescimento será sustentado e continuado e que "o mais importante é que fecharemos o ano com 2 pontos a menos na inflação". Indagado se os dados negativos do PIB poderiam resultar em aumento da pressão contra sua permanência no governo, Palocci declarou: "Não estou preocupado com isso". E acrescentou: 'Fico mais estimulado a trabalhar quando as dificuldades e os desafios aparecem".
JUROS
O ministro da Fazenda também não quis responder de forma incisiva se o enfraquecimento do ritmo de atividade poderá permitir uma queda mais rápida das taxas de juros. "O Banco Central vai observar todos esses elementos do crescimento e do comportamento da inflação. O foco do Banco Central é o comportamento da inflação."
"Houve um esforço monetário no fim do ano passado e no começo deste ano que trouxe uma vitória importante na redução da inflação. E isso tem seus custos. Toda política monetária tem custos. Mas acho mais importante é que vamos fechar o ano com dois pontos a menos na inflação", afirmou Palocci. E completou: "Esse é um esforço que temos feito desde o início do governo, com muito sucesso, que já está se refletindo na renda das famílias, que está crescendo no conjunto da massa salarial, do crédito, e são esses dados que nos dão certeza da continuidade do crescimento".
Ao reconhecer que a queda do PIB "ficou um pouco acima do previsto", Palocci ponderou, que, "se olharmos os dados divulgados pelo IBGE, veremos que houve expansão importante do consumo das famílias, que representa 60% do PIB". Na sua avaliação, a queda refletiu uma condição do terceiro trimestre, que poderá se repetir em outubro, mas será revertida no fim do ano.