Título: Recuo do PIB é preocupante, diz Furlan
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. B4

Para o ministro, resultado é conseqüência da política econômica do governo, mas a retomada já recomeçou

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, criticou ontem a política econômica do governo, que causou a queda de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. "A política econômica produziu os resultados previstos", comentou. Ele classificou de "preocupante" o resultado e observou que está aberto o caminho para o corte mais rápido nos juros. Para Furlan, o recuo do PIB é conseqüência do esforço "na busca de números positivos da inflação e na contenção de todos os pontos que estavam nas metas macroeconômicas". Ele observou que "é importante a retomada do crescimento que, aparentemente, já começou e vai aparecer no fim do ano".

O ministro acompanhava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Puerto Iguazú, onde foram comemorados os 20 anos do tratado Brasil-Argentina que deu origem ao Mercosul.

CENSURA

Em Brasília, o vice-presidente José Alencar disse que esperava a queda do PIB. Ele reclamou que sofre censura por repetir o discurso contra as "estratosféricas" taxas de juros no País. "Só espero que a queda do PIB seja sazonal", comentou.

Para uma platéia de militares que participavam de um seminário sobre a Amazônia, Alencar disse que os recursos para infra-estrutura e serviços essenciais são "desviados" para pagar a rolagem da dívida. Um dia antes, o presidente Lula afirmara, em solenidade no Palácio do Planalto, que a política econômica não era empecilho para a política social.

O vice-presidente deixou claro que discorda de Lula: "Sou censurado porque repito que os juros são despropositados e responsáveis pela falta de recursos para tudo que é absolutamente essencial".

Alencar arrancou aplausos dos militares ao dizer que, no período colonial e republicano, o País conseguiu levar adiante grandes obras e projetos, como fortes militares, Brasília, a Petrobrás e a Vale do Rio Doce, sem dispor de dinheiro. Nesses períodos, no entanto, não havia a exigência de cumprimento de metas de superávit primário, tampouco havia o Comitê de Política Monetária(Copom), alvos de críticas do vice-presidente.

"Temos de lembrar que hoje o Brasil tem mais recursos que naquele tempo." Alencar evitou criticar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e elogiou a "sensibilidade" de Lula e do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, pelos números positivos na área social.

O vice-presidente disse que, apesar das dificuldades, o País tem como retomar o crescimento econômico, pois "Deus é brasileiro". "Enquanto as atividades produtivas não puderem remunerar o custo de capital, será difícil o País retomar o crescimento na dimensão que precisa e pode", salientou. "Sou muito persistente, acredito que ainda há tempo para mudar."

Alencar cobrou mais atenção do governo para a Amazônia, lembrando dos interesses de outros países na internacionalização da área. "Tenho 74 anos, mas ainda tenho força para puxar o gatilho de uma garrucha na defesa da fronteira do Brasil", ressaltou. "Os recursos para a Amazônia estão aí e estão sendo desviados para o custo da rolagem da dívida."

RECUO MOMENTÂNEO

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, não acredita que o PIB vá crescer 3,5% em 2005, conforme estima o governo. Segundo ele, a expansão deverá ser entre 2,5% e 3% e a queda de 1,2% do PIB no terceiro trimestre, em relação ao período anterior, foi resultado de "excesso de zelo" do Banco Central (BC).

"A desaceleração (do PIB) foi provocada pela política monetária restritiva", afirmou Mantega, enfatizando que o recuo é momentâneo, pois já há sinais de que a economia continuará crescendo. Como prova dessa expansão, Mantega destacou que os desembolsos do BNDES, em novembro, foram de cerca de R$ 6 bilhões, ante R$ 3,8 bilhões de outubro.

Mantega acredita que o principal fator para a expansão do PIB é a queda da taxa Selic, atualmente em 18,5% ao ano. "O Copom poderia nos dar um presente de Natal, fazendo uma redução substancial (dos juros)."