Título: BC errou a mão, avalia Planalto
Autor: Beatriz Abreu, Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Economia & Negócios, p. B5

Críticas à manutenção do juro em níveis elevados por muito tempo não partem apenas da 'ala desenvolvimentista'

Com a retração da economia no terceiro trimestre acima do previsto, o Banco Central (BC) está na berlinda. A avaliação feita ontem no Palácio do Planalto e até mesmo por integrantes da equipe econômica foi a de que o BC exagerou na dose da política monetária, mantendo a taxa de juro elevada por muito tempo. "A sensação generalizada é a de que eles (os diretores do BC) forçaram um pouco as coisas", sintetizou um importante colaborador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

As acusações mais pesadas contra o BC partem do chamado "grupo desenvolvimentista" do governo. Mas a novidade é que, agora, as críticas não se restringem a ele. Um "desenvolvimentista" disse que o BC, ao manter o juro em 19,75% ao ano por quatro meses, deprimiu em demasia o nível de atividade e inibiu os investimentos, o que está expresso nos números divulgados pelo IBGE. "Houve um corte desnecessário da demanda."

Os governistas mais críticos, condenam a "venda" ao presidente da previsão de que a economia cresceria 4% este ano, porcentual que Lula chegou a citar no exterior. Os dados do IBGE sobre o terceiro trimestre criaram um clima pessimista e já se fala em crescimento este ano de apenas 2,5%.

Mas a preocupação maior é com o comportamento da atividade econômica em 2006, ano de eleições. Os governistas achavam que a economia estaria "rodando" a 5% no período eleitoral, o que aumentaria as chances de Lula ser reeleito. Por causa disso, as críticas à política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, nunca prosperaram. Surge agora a dúvida sobre a possibilidade real de a economia crescer 5% no próximo ano.

Esse clima de incerteza sobre a trajetória da economia fortalece a posição do grupo liderado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que quer maiores investimentos em infra-estrutura, considerada essencial para o crescimento. Uma proposta desse grupo é que a Junta de Execução Orçamentária libere, na reunião de hoje, mais recursos para os investimentos, o que ajudaria a acelerar a atividade econômica.

Ao mesmo tempo, generaliza-se o clamor no próprio governo por uma redução mais rápida dos juros. Embora ninguém questione a autonomia dos diretores do BC para realizar a política monetária que consideram mais adequada para conter a inflação, para os críticos existe espaço para reduções mais fortes. "O Banco Central pode cortar 1 ponto porcentual da taxa em dezembro, por que não?", questionou um dos integrante do "grupo desenvolvimentista".