Título: Morte de Daniel teve 2.º mandante, diz MP
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Nacional, p. A16

Promotores afirmam na CPI dos Bingos que principal indício é a descoberta de que 'Monstro' foi a Campinas na véspera do crime

Ao deporem ontem na CPI dos Bingos, os promotores encarregados do inquérito que apura o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, indicaram a existência de um outro mandante do crime, além do empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. Daniel foi seqüestrado na noite de 18 janeiro de 2002, uma sexta-feira, quando voltava de um jantar no carro blindado conduzido por Sombra e morto dois dias depois. O principal indício sobre o outro mandante, segundo os promotores, é a descoberta de que um dos envolvidos no assassinato, Ivan Rodrigues da Silva, vulgo Monstro, teve de ir a Campinas no sábado para receber a ordem de matar o prefeito. Prestaram depoimento os promotores Roberto Wider Filho, Amaro Thomé Filho e Adriana Pereira Souza e a delegada Elisabete Sato, responsável pelo inquérito policial desde a sua reabertura, em agosto.

Segundo Wider, ficou claro nos inquéritos que Sérgio Gomes da Silva teve participação no crime. O que ocorreu, disse ele, foi um desacerto no esquema de corrupção em Santo André. Ou seja, Celso Daniel concordava que o dinheiro arrecadado com propina na prefeitura fosse dirigido para o caixa 2 das campanhas do PT, mas, quando soube que a verba estava sendo desviada do partido e quis apurar tais desvios, foi assassinado.

Os promotores creditaram a conclusão da Polícia Civil - que considerou o prefeito vítima de um crime comum - a uma série de falhas no decorrer da primeira apuração. Entre elas, a de aceitar a "confissão" de um menor que relatou ter feito os oito disparos contra Celso Daniel.

Segundo Wider, esse adolescente assumiu 13 versões diferentes a respeito dos tiros, nenhuma delas condizente com o laudo pericial. Ele tampouco conseguiu identificar o prefeito em fotos. De acordo com o promotor Amaro Thomé, as contradições de Sérgio Sombra também ultrapassaram todos os limites de veracidade.

A começar pela "variedade" de versões que utilizou para justificar porque parou a Pajero e abriu a porta do passageiro quando foram interceptados pelos seqüestradores. Os promotores atribuíram ainda a classificação de crime comum ao fato de autoridades petistas terem pressionado a polícia para não "politizar" a investigação, conforme o ex-secretário de governo de Santo André Klinger Luiz de Oliveira revelou no seu depoimento à CPI.

Roberto Wider lembrou que Sombra foi indiciado e chegou a ficar preso sete meses como mandato do crime. Outras 13 outras pessoas foram indiciadas por envolvimento no esquema de corrupção, entre elas Klinger e o empresário Ronan Maria Pinto, dono de 50% da frota de ônibus de Santo André, ambos acusados pela empresária Rosângela Gabrilli de participar do esquema de extorsão para alimentar o caixa 2 do PT. Questionados sobre a informação prestada pelo irmão do prefeito, João Francisco Daniel, de que o dinheiro do achaque ia mesmo para o PT, os promotores disseram não ter motivos para duvidar de suas palavras.