Título: Nova obsessão é provar que foi injustiçado
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/12/2005, Nacional, p. A7

Dois anos e onze meses depois de subir a rampa do Palácio do Planalto carregando os sonhos da geração de 1968, José Dirceu de Oliveira e Silva sai da cena política cassado e com uma obsessão: provar que foi injustiçado pela Câmara. Agora, vai escrever um livro contando os bastidores dos 30 meses em que foi ministro-chefe da Casa Civil - o mais poderoso do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Promete revelações, principalmente contra desafetos. 'Só eu sei o que passei', diz o ex-deputado.

Sem abandonar o estilo de guerrilheiro, que durante 120 dias tentou salvar o seu mandato, ele é taxativo: 'Não vou me dobrar.' Dirceu ficou magoado com Lula - que só resolveu ajudá-lo nos últimos dias de agonia -, mas garante que as estocadas do livro não vão acertá-lo. 'Vou continuar defendendo o PT e o presidente Lula', afirma.

Sua história começará a ser narrada na próxima semana ao jornalista Fernando Morais. O livro será escrito na primeira pessoa. Dirceu vai se submeter a interrogatório diário de oito horas, durante dez dias.

No início de 2006, antes do lançamento do livro - previsto para abril -, o ex-ministro pretende viajar para os Estados Unidos. Emissários da secretária de Estado americano, Condoleezza Rice, com quem Dirceu mantém bom relacionamento, chegaram a convidá-lo para passar uma temporada em Washington e fazer palestras sobre a situação do Brasil.

Se aceitar o convite, o ex-deputado petista ficará hospedado na casa do amigo Bill, integrante do Partido Republicano. Planeja estudar inglês e permanecer na capital americana por um período que pode ir de 20 dias a dois meses.

O ex-ministro, ex-deputado e ex-presidente do PT não quer, porém, se afastar do Brasil por muito tempo. Mesmo cassado, jura que trabalhará pela reeleição do presidente Lula, mas com condição: desde que o presidente se comprometa a mudar a política econômica num eventual segundo mandato.

'Fomos prisioneiros de uma visão muito ortodoxa e isso não pode continuar', opinou Dirceu. 'Essa política de juros altos precisa ser revista para tornar viáveis os investimentos.' 'Quero ser militante e ter papel suprapartidário.' Em conversas reservadas, ele tem defendido a fusão, a longo prazo, do PT, PSB e PC do B.