Título: Preço baixo é a arma contra vinho importado
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2005, Economia & Negócios, p. B10

Vinícolas brasileiras se preparam para a briga com produtos argentinos e chilenos

Os principais produtores brasileiros de vinho já prepararam arma e munição para a guerra de fim de ano. Pretendem atacar os rivais chilenos e argentinos basicamente em um único ponto: o preço. Todas as grandes vinícolas do País investiram em tecnologia, cortaram custos e renegociaram com fornecedores para chegar ao Natal e Ano Novo com produtos mais competitivos. "Trouxemos barricas de carvalho da França, automatizamos a produção e contratamos enólogos de renome internacional. Tudo isso para produzir um vinho melhor e com custo mais competitivo", explica Angelo Salton Neto, da Vinícola Salton, uma das gigantes do setor. A Salton gastou R$ 30 milhões para erguer uma nova vinícola de 30 mil m2 na cidade gaúcha de Tuyuti e, com isso, quase dobrar sua capacidade de processamento de uva, atualmente em 18 milhões de quilos. O resultado já começa a ser percebido nas prateleiras. O espumante Salton Brut Tradicional é vendido nos supermercados por R$ 16, cerca de R$ 10 mais barato que os concorrentes do mesmo nível. Segundo o crítico Saul Galvão, em avaliação publicada na semana passada no Estado, o vinho tem uma "excelente relação qualidade-preço".

A ofensiva mais agressiva da Salton, no entanto, está por vir. Em janeiro, a empresa promete cortar 30% no valor da linha Classic 2004, que passa de R$ 17 para R$ 13. "É um vinho que pode ser comparado tranqüilamente a um chileno de R$ 16", diz Salton. "A colheita de uvas de 2004 foi excepcional tanto no sentido de qualidade como de quantidade. Vamos tirar proveito disso no preço do vinho." A meta da Salton é fechar 2006 com 1 milhão de garrafas desse tipo de vinho vendidas, o dobro do volume registrado em 2005.

A Salton tem outro trunfo: conta com o suporte de sua linha de produtos populares, como o vinho Chalise, um dos campeões de venda na faixa de R$ 5, e o conhaque Presidente, um dos líderes de mercado, cujo faturamento sustenta o investimento em vinhos mais finos. "Hoje, dos R$ 140 milhões que faturamos, 70% vêm das linhas populares e 30% dos vinhos finos. Nossa meta é que, até 2008, essa proporção de vinhos finos chegue a no mínimo 50%."

Outra gigante, a Vinícola Aurora, até espremeu suas margens de lucro como forma de ganhar espaço no mercado. Hoje, de cada cinco garrafas de vinho fino vendidas no País, três são importadas, uma proporção difícil de ser revertida, principalmente com a alta do real frente ao dólar, que torna os vinhos europeus, argentinos e chilenos mais acessíveis.

"Fizemos um amplo processo de reestruturação na empresa, e em alguns casos cortamos totalmente nossas margens, para reduzir em 15% o preço dos vinhos", conta o diretor-comercial da empresa, Carlos Zanotto. Encaixam-se nessa categoria os vinhos Saint Germain, Conde de Foucault, Clos des Nobles e Marcus James. Também a linha mais fina, Aurora Reserva, teve a margem sacrificada para se manter no preço R$ 24.

A Vinícola Miolo resolveu firmar seu espaço por meio de duas estratégias. A primeira é investir em marketing, divulgação e lançamento de produtos, como os dois novos espumantes preparados para o fim do ano. A segunda é a administração dos custos, que permitiu à empresa manter os produtos na mesma faixa de dois anos atrás. "Não tivemos aumento, mesmo com a variação de inflação. Tivemos também algum ganho de competitividade com a redução de IPI dos vinhos espumantes, o que nos permitiu baixar em R$ 1 ou R$ 2 o preço do produto na prateleira", diz Adriano Miolo, diretor-técnico e enólogo da empresa.

Paralelamente, a Miolo também segue a todo vapor em seu projeto de exportação, pelo qual pretende mandar para o exterior, até 2012, 30% de sua produção, por meio da associação com a chilena Via Wines. E aí sim, brigar de igual para igual com argentinos e chilenos, mas nos ringues da Europa e EUA.