Título: Sete anos depois, Viagra perde força no mercado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2005, Vida&, p. A13

Número de prescrições caiu neste ano e parte da queda é atribuída ao medo de efeitos colaterais, como a cegueira; Pfizer já planeja novas campanhas publicitárias

NOVA YORK - Sete anos depois que a Pfizer transformou sua pílula azul em marco cultural e sucesso comercial, o mercado de medicamentos contra a impotência sexual parece ter ficado abaixo do esperado. Mais de US$ 400 milhões gastos em propaganda em 2004 colocaram o Viagra e seus competidores, Cialis e Levitra, entre as drogas de maior venda nos Estados Unidos, com cerca de US$ 2,5 bilhões em vendas no ano passado. Mas os números estão em queda. Em outubro deste ano, os médicos fizeram 10% menos prescrições do que em outubro de 2004. Parte da queda resulta de relatos, disputados por alguns especialistas, que relacionam as drogas contra impotência a algumas formas raras de cegueira. Mas há também um fator mais fundamental, segundo urologistas que se especializaram no problema: muitos homens impotentes decidiram não tomar mais as drogas, apesar de elas funcionarem 70% das vezes e terem muito poucos efeitos colaterais.

A diminuição das prescrições é acompanhada de uma estabilização nas vendas também de outros medicamentos de grande circulação, como antidepressivos - o que pode ser o sinal de um limite na capacidade das campanhas publicitárias de aumentar a venda desses produtos. No fim dos anos 90, a indústria farmacêutica usava a televisão para introduzir novos tratamentos para condições crônicas como artrite e azia. Mas hoje, com muitos pacientes descontentes com os altos preços dos medicamentos e as suspeitas de que os laboratórios escondem efeitos colaterais, a publicidade da indústria farmacêutica parece estar perdendo sua força.

No Brasil é proibido fazer propaganda de medicamentos que exigem prescrição médica. Nos EUA, entretanto, a publicidade do setor é fortíssima.

Cerca de metade dos homens acima de 40 anos sofrem com impotência sexual média ou ocasional, mas a Pfizer estima que apenas 15% deles recebem prescrições para Viagra, Cialis ou Levitra. Na esperança de aumentar essa porcentagem, a empresa deverá lançar duas novas campanhas publicitárias: uma específica para o Viagra e outra genérica, sobre a disfunção erétil.

"Achamos que há uma oportunidade para expandir (nosso mercado)", disse Greg Duncan, vice-presidente de Marketing da Pfizer nos EUA. Muitos homens ainda têm vergonha de falar com o médico sobre o Viagra e a empresa quer remover esse estigma ainda associado à disfunção erétil. A Pfizer também quer incentivar homens mais novos a tomar Viagra, segundo Duncan.

As campanhas, entretanto, podem não fazer muita diferença. O Viagra já é uma das marcas mais conhecidas no mundo e o estigma associado com a impotência já foi bastante reduzido desde o lançamento do medicamento. Apesar de as drogas já terem ajudado milhões, muitos homens impotentes simplesmente decidiram não tomar remédios para melhorar sua capacidade sexual, segundo Abraham Morgentaler, urologista da Escola de Medicina de Harvard. "A idéia de que todo homem com disfunção erétil vai querer tomar uma dessas pílulas não está correta, na minha opinião", disse. "E não vejo nada de errado nisso."