Título: 'Tentaram matar-me na mesquita', diz ex-primeiro-ministro, que saiu correndo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/12/2005, Internacional, p. A11

BAGDÁ - O ex-primeiro-ministro interino iraquiano Iyad Allawi disse ontem que um grupo armado tentou matá-lo dentro do mais importante templo xiita, a mesquita do Imã Ali, na cidade sagrada de Najaf, ao sul de Bagdá. Em campanha para as eleições parlamentares do dia 15, Allawi disse ter ido à mesquita a convite de clérigos locais. Ele é um xiita secular, que viveu no exílio no governo de Saddam Hussein e foi colaborador da Agência Central de Inteligência (CIA). No entanto, as agências internacionais de notícias ressalvam que não há relatos de fonte independente sobre o ocorrido dentro da mesquita e, apesar de a delegação de Allawi ter saído às presas do local, sob uma chuva de pedras, sapatos e até tomates, ninguém se feriu. Imagens de TV mostraram o grupo correndo do templo. Atirar sapatos contra alguém - ou mesmo mostrar suas solas - é um grave insulto na cultura árabe.

"Eles planejavam matar toda a delegação ou pelo menos a mim. Um deles sacou o revólver, mas entrou em pânico e a arma caiu de suas mãos", disse Allawi, destacando que uns 60 homens, de uniformes pretos e com pistolas, facas e espadas, os cercaram quando rezavam. "Ficou claro que era uma tentativa de assassinato, semelhante ao que aconteceu com o clérigo Abdul-Majid al-Khoei", disse Allawi, referindo-se a um líder religiosos xiita morto em 2003 por seguidores do clérigo radical Muqtada al-Sadr.

Allawi não é popular entre os xiitas, que não se esqueceram da pesada ofensiva das tropas americanas e iraquianas contra Najaf em agosto de 2004, quando era primeiro-ministro. Ele já foi alvo de tentativas de assassinato nos últimos dois anos. Embora Allawi se tenha recusado a indicar quem estaria por trás do incidente na mesquita, seus assessores disseram que os os atacantes gritaram slogans em apoio ao clérigo Al-Sadr. A milícia de Al-Sadr usa uniformes negros e lutou contra as tropas americanas e iraquianas em Najaf, em agosto do ano passado.