Título: CPI dá última chance a Palocci
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2005, Nacional, p. A10

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, é aguardado na CPI do Bingos na próxima terça-feira. Se não comparecer, será convocado a depor. O convite foi feito ontem à tarde, após o rompimento do acordo que havia sido costurado para evitar a convocação. O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), disse que Palocci ligou na noite de terça-feira para avisar, de forma educada, que não queria depor neste ano. Recuava, portanto, do acordo feito com os senadores há menos de um mês, de trocar a convocação por um convite para falar à comissão em dia combinado.

De acordo com o senador, Palocci disse que preferia levar o assunto a votação e correr o risco de ser convocado pela CPI em vez de acertar um convite para se explicar neste mês. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, já havia telefonado para Efraim, fazendo uma sondagem sobre sua reação. "Eu avisei que iria colocar o requerimento em votação, porque entendo que a atitude do ministro foi desrespeitosa ao acordo firmado entre oposição e a base governista", informou.

O senador Flávio Arns (PT-PR) recebeu a incumbência de comunicar a decisão a Palocci. Até o início da noite, como não tinha conseguido falar com o ministro, que estava despachando no Planalto, Arns deixou recado com Murilo Portugal e com o chefe de gabinete, Marcos Galvão. "Eles disseram que o ministro continua totalmente disponível para atender à CPI, mas acham que não deve ser já", informou.

Efraim disse que se sentia constrangido em renovar o convite diante da postura de Palocci de ignorar a "tolerância" com que foi tratado. "Era a oportunidade de ele se defender perante a sociedade e ele recusou", alegou.

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) alegou que Efraim recebeu "poderes" da comissão para marcar a data do depoimento do ministro ou de chamá-lo para um entendimento. "O que todos concordavam é que essa luta de votar um requerimento é um pouco como invadir uma porta já aberta", argumentou.

ESTRATÉGIA

A oposição reagiu à estratégia dos governistas, que confiavam no voto do representante do PDT, senador Augusto Botelho (PDT), para derrubar o requerimento de convocação por oito votos a sete. Palocci chegou a ligar para o líder do partido, Osmar Dias (PR), explicando a situação. Só que não convenceu, já que Dias e o senador Jefferson Péres (PDT-AM) fecharam questão pela "necessidade" de Palocci depor este ano.

Para evitar bronca de Tião Viana (PT-AC) e Eduardo Suplicy (PT-SP), que estavam ausentes, foi montada em poucos minutos uma espécie de "dossiê", mostrando que os petistas recuaram no acordo prévio. A prova está nas afirmações que eles e o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), fizeram sobre a disposição do ministro de atender imediatamente ao convite da CPI mediante um simples telefonema do presidente da comissão.