Título: Europeus querem negociar mais que agricultura
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2005, Economia E Negócios, p. B7

Para União Européia, Brasil precisa se engajar nos debates sobre produtos industriais e serviços

Entrevista Marianne Fischel Boel: Comissária de Agricultura da União Européia

Os europeus querem concessões por parte do Brasil em temas como acesso ao mercado nacional para seus produtos industriais e serviços. Em entrevista ao Estado, a comissária de Agricultura da União Européia (UE), Marianne Fischel Boel, rejeita a acusação de que Bruxelas não está flexível o suficiente nas negociações agrícolas e alerta: a rodada não se limita à agricultura. Dona de uma fazenda na Dinamarca que recebe subsídios, Fischel Boel será um dos personagens centrais em Hong Kong. A seguir, trechos da entrevista.

O Brasil afirma que a oferta européia é insuficiente. A UE poderá trazer uma nova proposta?

Já colocamos nossa oferta sobre a mesa e é muito ambiciosa. Cortaríamos nossa média tarifária de 23% para 12%. Oferecemos um aumento substancial no acesso a nosso mercado para todos os produtos, sem exceção. Oferecemos cortar nossos subsídios domésticos que distorcem o comércio em 70% e de gradualmente tirar os subsídios à exportação. Será que alguém pode dizer que isso é insuficiente? Agora é o momento para os demais países se moverem.

O Brasil defende o fim dos subsídios à exportação até 2010. Essa é uma data realista e que a UE pode aceitar?

Só falaremos de data final quando tivermos um claro compromisso por parte de outros sobre como pretendem limitar seus programas de promoção de exportações. Os Estados Unidos precisam reduzir seu uso de ajuda alimentar e disciplinar os esquemas de créditos para a exportação.

Em sua proposta agrícola, quais seriam os ganhos para os países emergentes?

Todos vão ganhar com a redução dos subsídios, com o fato de que as exportações da Europa continuarão a cair e com o corte profundo de tarifas. Mas essa rodada é muito mais que agricultura e a Europa não pode ser a única a mostrar flexibilidade. Precisamos de um equilíbrio entre agricultura e outros setores como bens industriais e serviços.

Mas o Brasil já indicou que não aceita essas condicionalidades. O Itamaraty terá de fazer mais?

Como eu disse, nós já fizemos nossa proposta. O Brasil precisa mostrar mais vontade para se engajar nos debates sobre produtos industriais e serviços.

Diante dessas diferenças, a sra. acha que a OMC ainda pode concluir a rodada Doha em 2006?

Sim, acredito. Embora as expectativas para Hong Kong tenham sido diminuídas, precisamos manter a ambição para a rodada Doha como um todo. Precisamos concluir a negociação antes que o Fast Track nos Estados Unidos (autorização dada pelo congresso para que o executivo negocie acordos comerciais) termine em 2007.