Título: Novas energias alavancam região Sudeste
Autor: José Roberto Mendonça de Barros
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2005, Economia & Negócios, p. B2

Nova configuração da matriz energética segue a tendência mundial

A matriz energética brasileira vem sofrendo profundas transformações desde os dois últimos choques de petróleo, em 1974 e 1979. Em primeiro lugar caiu vertiginosamente a dependência brasileira em relação ao petróleo importado, que de 85% em 1979 passou para apenas 8% em 2004. Também, em termos de divisas, a participação das importações de petróleo em relação ao total importado caiu de 50%, em 1981, para 16% em 2004. Essas duas razões explicam o pequeno impacto da atual alta nos preços de petróleo no mercado internacional sobre a economia brasileira. Além disso, é crescente a participação de fontes não tradicionais na oferta interna de energia, chegando a 43,9% no ano 2004. Participação significativa se comparada ao padrão mundial, que é da ordem de 13,6%, e de apenas 6% nos países desenvolvidos.

A região Sudeste, particularmente, é a principal ganhadora com essas transformações, tanto do ponto de vista da provisão de "novas energias" (não tradicionais), como álcool e bagaço, carvão vegetal e gás natural, quanto na provisão de energias tradicionais, petróleo e seus derivados.

A produção de cana-de-açúcar no Brasil ganhou novo impulso, no ano de 2003, com a comercialização dos carros com a tecnologia bicombustível. A já mencionada alta nos preços de petróleo e a forte competitividade brasileira na produção de álcool, com custos (na porta da usina e sem impostos) da ordem de R$ 0,65/litro , tem garantido tanto o sucesso na difusão do uso desta tecnologia, como também um excelente desempenho para o setor. Estima-se que a partir de 2007, 100% dos carros vendidos no país sejam flex fuel. O etanol de cana brasileiro é o único substituto, no mundo, de petróleo que simultaneamente é competitivo (sem subsidio), renovável e que concorre para a redução do efeito estufa. A região Sudeste é hoje responsável por 67,9% da produção nacional de etanol. O bagaço, subproduto da produção do álcool, é utilizado ainda na produção de energia elétrica, com participação de 18,9% no total de energia elétrica autoproduzida no país.

O protocolo de Kyoto, assinado em 1997, com o objetivo de reduzir a emissão de gases causadores do "efeito estufa", inclui também a substituição do carvão mineral, como fonte de energia, pelo carvão vegetal oriundo de florestas plantadas. A possibilidade de negociação de créditos de carbono tem atraído investimentos para projetos nessa direção. O Estado de Minas Gerais concentra hoje os maiores investimentos dessa natureza, dada a importância das indústrias siderúrgicas para a região. A produtividade tem subido extraordinariamente nos últimos anos: a produção de madeira por hectare obtida nas florestas da Acesita, no abate após sete anos passou de 31 ton/ha em 1974 para 122,5 ton/ha em 2004 (um crescimento de 295%). A variedade mais recente, HC1528, já produz 262,5 ton de madeira por hectare. Por essa razão, o custo de produção vegetal na região é hoje um terço da do carvão mineral. Outro exemplo é o do projeto do Grupo Plantar, em parceira com o Robobank International, que com uma área de 23 mil hectares de florestas plantadas produz 10 milhões de toneladas de carvão vegetal utilizados na produção de ferro gusa.

A nova descoberta de reservas de gás natural e de petróleo na região Sudeste é mais uma boa notícia para a região, que passa a concentrar 67,4% e 91%, respectivamente, das reservas totais do país. No caso do gás natural o início da exploração das novas reservas na Bacia de Santos irá garantir uma menor dependência brasileira quanto ao gás importado da Bolívia e da Argentina. Países cujas instabilidades políticas e, no caso da Argentina, deficiência energética, trazem insegurança quanto à continuidade do abastecimento interno de gás e, portanto, prejudicam o desenvolvimento desse mercado no Brasil. Além disso, a proximidade dessas reservas com o mercado consumidor garante uma extraordinária competitividade ao gás brasileiro, dado que, no mundo, o custo do transporte a grandes distâncias é o maior item do preço final do produto.

As novas reservas de petróleo vão desde a Bacia de Santos, com a BS-500 de óleo leve, passando pela Bacia de Campos, já no Estado de Espírito Santo, com a ESS-130 de óleo leve, até o norte do Estado, no campo de Golfinho, de óleo leve também. Essas novas descobertas somadas a tecnologia de exploração em águas profundas, desenvolvida pela Petrobrás, deverá permitir que o país chegue a auto-suficiência já no final de 2006, como programado pela empresa. Assim, a nova configuração que a matriz energética nacional vem assumindo, na direção de energias renováveis (não tradicionais), não só é positiva, já que caminha junto à tendência mundial - de redução na utilização de energias poluentes, como também possibilita o aproveitamento das vantagens naturais do país. A região Sudeste, sem sombra de dúvidas, terá muito a ganhar nos próximos anos.