Título: Furlan questiona as estatísticas
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2005, Economia & Negócios, p. B3

A economia real brasileira tem desempenho melhor do que mostram as estatísticas, disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, em jantar com empresários franceses, anteontem, na Embaixada da França. "Há um paradoxo na economia brasileira", disse. "Há uma situação onde se confunde números, que eu realmente não entendo, e a economia real, que está muito melhor que as estatísticas", afirmou, ao tentar explicar para os empresários as novas previsões de crescimento da economia para este ano, em torno de 2,5%.

Furlan avaliou que o dado do PIB mascara os resultados setoriais, que são melhores. "Talvez os modelos estatísticos estejam superados, inclusive os que o Banco Central (BC) usa", disse, referindo-se aos parâmetros que o BC usa para administrar o regime de metas de inflação. "Estamos discutindo o resultado do terceiro trimestre quando 80% do quarto trimestre já foi", criticou. As observações foram feitas para responder ao presidente da Câmara de Comércio Empresarial da França, François Dossa.

Segundo Furlan, a arrecadação real do Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) vai crescer 23% este ano, o que demonstra que as empresas estão lucrando. Argumentou ainda que o prêmio da taxa de conversão para as matrizes também é positiva em função do câmbio atual. Citou ainda os recordes das empresas nas bolsas de valores e o a queda do risco país.

Furlan disse ainda que "há uma força inercial das exportações" mesmo com o câmbio valorizado. "Estamos registrando recordes todos os meses. Não temos argumentos para convencer o outro lado de que é preciso fazer ajustes", disse referindo-se à área econômica.

INFRA-ESTRUTURA

O ministro também ouviu queixas sobre a precariedade da infra-estrutura no País. "Nos tornamos uma empresa exportadora e agora vejo a ruína progressiva da infra-estrutura no Brasil", disse o presidente da Alstom no Brasil, José Luiz Alqueres.

Furlan garantiu que a preocupação com a infra-estrutura é compartilhada por ele e pelo presidente Lula. "A minha inquietude é sempre com a demora e a burocracia", respondeu. "Não precisamos mais de diagnósticos no nosso País. Precisamos de resultados."

O ministro contou que, ao fazer um balanço do que foi feito na área de portos, percebeu-se que "as coisas andaram menos que poderia". Além da burocracia, ele disse que há exageros também na concessão de licenças ambientais para obras. "Se avançarmos na área de infra-estrutura, a valorização da taxa de câmbio será atenuada", afirmou, citando os custos altos de logística.