Título: Indústria surpreende e cresce
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2005, Economia & Negócios, p. B4

A indústria brasileira surpreendeu em outubro e teve um pequeno crescimento no nível de atividade em relação a setembro, escapando da queda esperada pela maior parte dos analistas. A produção do setor ficou praticamente estável (0,1%) ante setembro e aumentou 0,4% na comparação com outubro do ano passado, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para a economista Isabella Nunes, do instituto, o desempenho de outubro "atenua, mas não reverte" a queda do setor no terceiro trimestre.

Economistas como Roberto Padovani, da Tendências Consultoria, receberam o resultado como uma amostra positiva para o PIB do quarto trimestre. Segundo ele, os dados de outubro "atenuam parte das expectativas negativas, elevando as chances de que o terceiro trimestre tenha sido, efetivamente, um movimento localizado".

Estevão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), compartilha dessa perspectiva e avalia que outubro pode ter sido uma transição para o reinício do crescimento. Já Julio Sérgio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) espera um quarto trimestre melhor do que o anterior, mas avisa que uma reação mais forte do só ocorrerá no próximo trimestre.

Isabella ressaltou que a estabilidade da indústria em outubro esteve ancorada em bens de consumo duráveis (geladeiras, freezer, automóveis) e semi e não duráveis (carburantes, edição e impressão, medicamentos), o que pode indicar uma recomposição dos estoques no setor. O intenso ajuste de estoques no final do terceiro trimestre foi um dos principal motivos apontados para a queda na produção industrial e do PIB. "O ajuste de estoques pode não ter terminado, mas já teve início uma recomposição, que pode estar relacionada às encomendas do comércio para o final do ano." Mas Isabella alerta que é preciso esperar os dados de novembro para checar se vão confirmar que o ajuste de estoques está chegando ao fim.

A economista observou que o crescimento na produção em outubro ante igual mês do ano passado foi garantido pela indústria extrativa mineral (10,8%, sob impacto de minério de ferro e petróleo). Apesar do peso de só 5% no total da produção da indústria, a extrativa mineral compensou a queda de 0,2% na indústria de transformação, que responde por 95% do total do setor.

Segundo Isabella, a pequena expansão de outubro é resultado de uma base de comparação elevada de outubro do ano passado. "Mas também reflete perda de ritmo da indústria em 2005, especialmente no segundo semestre." Doze de 27 segmentos pesquisados mostraram crescimento na produção, com destaque, além da indústria extrativa, para máquinas para escritório e equipamentos de informática (46,6%), farmacêutica (13,2%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (12,9%).

Ela observou também que a alta foi resultado da expansão em 13 dos 23 ramos pesquisados nessa base de comparação. Os destaques positivos foram máquinas, aparelhos e materiais elétricos (2,5%), refino de petróleo e produção de álcool (0,9%) e outros produtos químicos (0,8%).

Outro dado positivo foi o investimento em bens de capital. Apesar da queda de 3,9% ante mês anterior, ressalvada por Isabella por causa da volatilidade da comparação nessa categoria, houve aumento de 2,1% na produção de bens de capital em outubro ante igual mês de 2004, puxado por equipamentos para energia (52,2%) e para construção (34,7%).

Houve expansão também em bens de capital para transporte (3,0%) e para uso misto (que inclui computadores, 1,9%). Os bens de capital para uso agrícola (-42,2%) continuaram despencando como tem ocorrido desde o início do ano e os bens de capital para fins industriais (-10,0%), que mostram investimentos na própria indústria, tiveram mau desempenho.

A economista destacou que as importações de bens de capital continuam em crescimento (26,5% na média diária em outubro ante igual mês do ano passado), o que, assim como os dados da produção de bens de capital, podem significar recuperação dos investimentos em alguns segmentos.