Título: Projeto dispensa empregado do serviço militar
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2005, Economia & Negócios, p. B5

O ex-ministro do Trabalho e atual deputado pelo PSDB de São Paulo, Walter Barelli, apresentou um projeto na Câmara dos Deputados que dispensa os jovens que já estão empregados da prestação do serviço militar obrigatório. Pela proposta, que deverá ser analisada só a partir do próximo ano, esse benefício valeria apenas para os jovens com idade até 18 anos que tenham um emprego formal há pelo menos 9 meses. Segundo especialistas, a obrigatoriedade do serviço militar seria um dos principais obstáculos para que o jovem nessa faixa etária ingresse no mercado de trabalho, ao lado da falta de experiência profissional. De forma geral, as empresas ou não empregam ou demitem jovens do sexo masculino antes do alistamento militar.

Hoje, mais de um terço dos desempregados no País são jovens de 18 a 24 anos. Só na Região Metropolitana de São Paulo, essa faixa etária responde por 33,2% do desemprego, o equivalente a 560 mil jovens desocupados, conforme pesquisa do convênio entre a Fundação Seade e o Dieese. O problema é ainda mais sério quando se considera que essa taxa é superior a 58% para os filhos de famílias mais pobres.

"Não estou querendo acabar com a obrigatoriedade do serviço militar, e sim diminuir a discriminação que o jovem em idade de alistamento militar sofre ao tentar encontrar seu lugar no mundo profissional", afirma Barelli. Segundo ele, cerca de 1,6 milhão de jovens do sexo masculino são obrigados a alistar-se a cada ano. Desse total, apenas 6%, ou aproximadamente 96 mil, são efetivamente incorporados às Forças Armadas

Pelas regras atuais, as empresas têm de garantir estabilidade no emprego ao jovem desde o momento do alistamento até um ano após o desligamento do serviço militar. Além disso, elas são obrigadas a recolher o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) desses jovens durante o período do serviço militar. "Em vez de beneficiar, a legislação acabou prejudicando esses jovens", diz Roberto Ferraiuolo, diretor do Departamento Sindical da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O técnico em informática Luis Ricardo Gomes Rodrigues, que completou 18 anos em setembro, sentiu isso na pele. Ele foi demitido há 4 meses e diz que um dos motivos foi o fato estar em idade de prestar o serviço militar. Pior que perder o emprego, Luis Ricardo agora não consegue encontrar uma nova colocação. "Já perdi a conta do número de empresas que procurei. Sempre me perguntam se me alistei, se fui dispensado, se acho que conseguirei me livrar do serviço militar. Ficam de dar uma resposta por telefone, mas nunca ligam."