Título: Rotina não muda na Fazenda Cachoeira
Autor: Evandro Fadel
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2005, Economia & Negócios, p. B7

A indignação do governo do Paraná com o Ministério da Agricultura por causa da afirmação de que a aftosa está instalada no Estado pôde ser sentida ontem, um dia depois do anúncio da doença: na região da Fazenda Cachoeira, apontada como hospedeira do vírus, não há nenhuma barreira sanitária nem a presença de técnicos da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento. Muito menos policiais, como ocorreu a partir de 21 de outubro em quatro fazendas paranaenses, quando o Estado foi notificado da suspeita da doença. A Cachoeira não estava entre as propriedades sob intervenção. Na portaria da fazenda, nenhum sinal de anormalidade: além da guarita, cancela e um segurança, não havia controle dos freqüentadores da propriedade de 1,5 mil alqueires, que abriga 2.210 animais da raça nelore, criados em confinamento. A maior parte está ocupada por trigo e soja. Nas décadas de 1950/60, então comandada por Jeremia Lunardelli, a Cachoeira foi a maior produtora de café do Estado, chegando a ter 6 milhões de pés.

A Cachoeira, de propriedade de André Carioba Filho, um dos herdeiros de Lunardelli, é considerada uma fazenda-modelo por causa da produtividade nos últimos anos. É a maior propriedade rural de São Sebastião da Amoreira, município de 10 mil habitantes, 70 km ao norte de Londrina.

São Sebastião da Amoreira foi pega de surpresa, na noite de segunda-feira, quando os telejornais informaram a presença da doença no município. "Foi um susto", confessou o chefe de governo do município, Odentino de Oliveira Castro, que assumiu o comando da prefeitura, já que o prefeito Jorge Takassumi (PL) viajou às pressas a Curitiba para saber o que fazer diante do anúncio. Takassumi deverá encontrar-se hoje com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. "O estado de emergência por enquanto está descartado", afirmou Castro.

"Assim que o Ministério da Agricultura nos comunicar que hospedamos um foco da doença, vamos contestar o laudo e entrar com uma ação indenizatória, porque não temos a doença aqui", afirmou o advogado da Fazenda Cachoeira, Ricardo Rocha Pereira. Segundo ele, os cerca de 170 animais adquiridos em Mato Grosso do Sul e apontados como portadores do vírus vêm sendo monitorados desde o início de outubro. "Todos os exames tiveram resultado negativo", garantiu.