Título: Paraná contesta foco de aftosa
Autor: Evandro Fadel
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2005, Economia & Negócios, p. B7

O governo do Paraná não aceita a declaração do Ministério da Agricultura de que existe um foco de febre aftosa em São Sebastião da Amoreira, a 380 quilômetros de Curitiba, no norte do Estado. "Nós vamos, pela via diplomática, administrativa e até jurídica, contestar a forma como o ministério estabeleceu esse foco no Paraná", disse o secretário da Agricultura, Orlando Pessuti. "Achamos que foi uma decisão precipitada, baseando-se apenas em um laudo de sorologia e vinculação com a origem." O assunto foi discutido ontem na reunião do Conselho Estadual de Sanidade Animal (Conesa), que congrega 35 entidades. "O próprio ministério sempre disse que a sorologia por si só não é suficiente para dizer se o animal tem febre aftosa ou não", disse Pessutti. "No nosso caso estão aliando a sorologia com a origem dos animais, vindos da Fazenda Bonanza, de Mato Grosso do Sul, o que teria estabelecido a circulação do vírus."

Pessuti afirma que a circulação não está comprovada porque nenhum outro animal, mesmo os mais suscetíveis de contrair aftosa, como suínos e caprinos, apresentou a doença. E os exames concluídos também não o demonstraram. "Mandamos 988 amostras e nenhum resultado até segunda-feira propiciou o isolamento e a identificação do vírus", ressaltou. "Há necessidade de prosseguir na investigação laboratorial para poder identificar se há ou não a presença do vírus e da doença."

Além disso, destacou, todos os exames Probang (que detectam o vírus) deram negativos. "Reafirmo que o Paraná continua na condição de Estado com suspeita de aftosa em algumas propriedades."

PROTESTOS

Sem a comprovação do vírus, o governo não quer nem falar em sacrifício ou abate dos animais. No caso de sacrifício de todos os animais da propriedade, o saneamento dura seis meses; se for feito o abate dos contaminados, com aproveitamento da carne, a exportação somente será retomada em 18 meses. A decisão, caso necessária, será apresentada pelo governo ao Conesa, mas a questão já divide pecuaristas e representantes da indústria da carne.

O presidente do Sindicato da Indústria da Carne, Péricles Salazar, pede uma solução rápida. "O secretário tem de defender politicamente o Estado, até porque há inconsistências técnicas, mas outra coisa é o factual", afirmou. "Nós, do setor privado, estamos pagando o preço pelas indefinições." Ele calcula que o setor já perdeu cerca de R$ 120 milhões. "Se continuarmos discutindo política, técnica e judicialmente, o setor privado continuará pagando o preço e não queremos isso."

Para o presidente da Sociedade Rural do Paraná, Edson Neme Ruiz, "primeiro precisamos de comprovação real da presença da doença nos animais e, segundo, em qualquer situação, não se pode sacrificar as provas, pois elas justificam qualquer atuação futura".

SegundoRuiz, foram feitas 11 vistorias na Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, e na inspeção visual não foi observado nenhum sintoma sugestivo de doença. "Temos de lutar e exigir o respeito que o Paraná merece", disse. "Nós é que estamos tomando vacina de aftosa porque estamos babando de raiva."