Título: Situação dos portos irrita Lula
Autor: Adriana Fernandes e Beatriz Abreu
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2005, Economia & Negócios, p. B8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer avanços rápidos nas obras de modernização dos principais portos brasileiros - até agora, o governo só teve resultados discretos. Determinou aos ministros que seja feito o que for necessário para resolver o problema. Lula está disposto até a mudar a direção das companhias docas, celeiro tradicional de indicações políticas dos partidos da base aliada do governo e fonte de problemas gerenciais, contou um integrante da equipe econômica. A ordem foi dada durante a reunião da Junta Orçamentária, na última segunda-feira. Segundo um dos participantes, Lula cobrou providências e marcou reunião na próxima semana para discutir uma agenda emergencial para melhorar os portos.

No início deste ano, o governo separou R$ 229,3 milhões, que não foram bloqueados pelo Tesouro Nacional, para obras prioritárias em sete portos brasileiros: Itajaí, São Francisco do Sul, Sepetiba, Rio de Janeiro, Rio Grande, Santos e Vitória. Até o momento, porém, apenas R$ 85 milhões foram comprometidos com o pagamento de alguma mercadoria ou serviço. O valor efetivamente gasto é ainda menor: R$ 12 milhões. O restante não foi usado e nem será, neste ano. Por isso, os técnicos cortaram parte da verba do programa dos portos que ficaria ociosa. O orçamento para os portos caiu de R$ 229,3 milhões para R$ 181,4 milhões.

"A administração das companhias que administram os portos é um problema gravíssimo. Temos de atacar isso. Não temos uma boa gestão", disse um integrante do governo. O governo, diz a fonte, não tem sido capaz de resolver esses problemas de gestão, agravados pelo loteamento político das empresas, que se somam às dificuldades na obtenção de licenças ambientais para a realização das obras. A confusão é tanta que reuniões do conselho de administração só se realizaram com base em liminar concedida pela Justiça.

Lula está irritado com a situação dos portos porque ouviu dos principais executivos de empresas multinacionais na sexta-feira, em São Paulo, que a baixa capacidade dos portos entravam a expansão dos negócios no País.

"Ele ouviu muitas reclamações. Ficou aborrecido e voltou determinado a resolver esse assunto (dos portos). O presidente vai mudar o que precisar mudar. Se tiver de trocar a direção inteira (das companhias docas), nós vamos trocar e resolver", revelou uma fonte.

Depois da reunião de Lula com os empresários, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, anunciou que o presidente havia assumido um compromisso com os empresários, de coordenar pessoalmente uma solução para as obras nos principais portos brasileiros. Lembrou que, desde 2003, o governo tem a "Agenda dos Portos", um diagnóstico sobre o que é preciso fazer para aumentar a capacidade dos 11 principais portos brasileiros. Mas, reconheceu Furlan, as obras não avançaram. Segundo ele, a burocracia foi o principal entrave.