Título: Bachelet sai na frente no Chile
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2005, Internacional, p. A8

Contadas 56,48% das mesas, candidata socialista tem 45,68% dos votos, Pi¿era, 25,83% e Lavín, 23,32%

Os eleitores chilenos foram às urnas ontem escolher um novo presidente, 20 senadores e renovar a Câmara de Deputados, de 120 cadeiras. Como era esperado, a candidata socialista Michelle Bachelet liderou a contagem dos votos. Apurados 56,48% das mesas de votação, Bachelet tinha 45,68% dos votos, indicando que ela deverá enfrentar em um segundo turno - em 15 de janeiro - o candidato de direita moderado Sebastián Pi¿era que, tinha 25,83% dos votos. Para ser eleita ontem, Bachelet deveria obter 50% dos votos mais um.

Ainda de acordo com os primeiros resultados, divulgados pelo Ministério do Interior, o candidato conservador Joaquín Lavín, tinha 23,32% dos votos e o quarto candidato, o representante da esquerda, Tomas Hirsch, 5,15%.

"Esta é uma festa democrática, onde nós, chilenos, encontramos nossa projeção histórica", afirmou o presidente Ricardo Lagos, que votou na sede do Instituto Superior de Comércio, em Santiago.

Os quatro candidatos presidenciais votaram em seus centros eleitorais na capital em meio ao caos produzido pelas centenas de pessoas que queriam aproximar-se deles.

"Estou confiante de que pela primeira vez na história do Chile vamos eleger uma mulher presidente", disse Bachelet após depositar seu voto no Colégio Verbo Divino, no elegante bairro de Los Condes. "É um grande dia para o Chile", disse, acompanhada de sua mãe e da filha caçula, enquanto um grupo de mulheres gritava seu nome. No Chile, as mulheres votam em colégios eleitorais separados dos homens. "Hoje é um dia em que um homem e uma mulher valem o mesmo: um voto", declarou a candidata.

Bachelet é filha de um general que foi detido e torturado pelos militares golpistas de 1973 e morreu no cárcere. Ela também foi presa e torturada após o golpe que derrubou Salvador Allende e teve de viver no exílio. A médica pediatra de 54 anos, que foi ministra de Saúde e da Defesa no governo Lagos, costuma dizer que representa todos os pecados: é mulher, socialista, separada e agnóstica. Bachelet se disse ontem certa de que vencerá o segundo turno. "Se houver um segundo turno", completou.

O vencedor da disputa, que governará o país pelos próximos quatro anos, se tornará o quarto presidente do Chile desde o final da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).

O empresário Pi¿era se mostrou confiante de que iria para o segundo turno para enfrentar Bachelet. Pi¿era chegou a seu centro de votação em Santiago acompanhado de dois de seus quatro filhos, em meio a um tumulto causado por jornalistas e cinegrafistas. Alguns eleitores o criticaram por causa da desordem e, irritados, gritaram insistentemente: "Vá embora, vá embora!" Mas nem os gritos e as críticas conseguiram arrancar o sorriso do confiante candidato, um economista de 56 anos, que acumulou uma fortuna de US$ 1,2 bilhão. Seu patrimônio inclui 27% da LAN (a maior empresa aérea comercial chilena) e um canal de TV.

Lavín, candidato ultraconservador de 52 anos, também disse estar certo de que disputará um segundo turno. "Vai ser manifestado o voto escondido dos que ficaram calados nas primeiras pesquisas", assegurou Lavín, enquanto esperava sua vez de votar. Ele lembrou que em 1999 foi superado apenas por uma estreita margem pelo atual presidente, cujo mandato termina em 11 de março.

Lavín, ex-governador de Santiago e membro do movimento católico Opus Dei, chegou mais tarde que o esperado a seu centro de votação em Santiago acompanhado de um de seus sete filhos. Sorrindo e exibindo o dedo manchado de tinta azul ele lembrou que participou de sete eleições e sempre seus votos resultaram ser superiores aos que diziam as pesquisas de intenção de voto. Contrário ao aborto, ao uso da pílula anticoncepcional do dia seguinte e ao divórcio, Lavín diz que, se for presidente, suas crenças influirão nas decisões do Estado.

Segundo o ministério do Interior, o processo eleitoral se realizou sem problemas. Os centros eleitorais foram abertos às 7 horas (8 horas de Brasília) e fechados às 16 horas. A maioria dos 8,2 milhões de eleitores votou pela manhã.