Título: Atenção se volta para julgamento dos mandantes
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2005, Nacional, p. A7

Entidades se preparam agora para acompanhar júri de fazendeiros acusados de mandar matar Dorothy

Com a condenação dos dois executores da missionária americana Dorothy Stang, entidades internacionais, ONGs e a Igreja têm sua atenção voltada para o júri dos mandantes do crime. O julgamento dos outros três acusados - os fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, que seriam os mandantes do crime, e Amair Feijoli, o Tato, que teria intermediado a contratação dos executores - ainda não tem data marcada, mas deverá ocorrer em 2006. O advogado Aton Fon Filho, que atuou como assistente de acusação, comemorou, ao final do julgamento, a aceitação, pelo júri, da tese de que o assassinato foi cometido mediante pagamento. Se a tese não fosse aceita, estava aberto o caminho para livrar a culpa dos mandatários: "Esta seria a primeira semente para a absolvição dos mandantes", disse Fon, enviado ao Pará pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.

O procurador federal Felício Pontes Júnior, com quem Dorothy teve sua última conversa ao telefone, na véspera da sua morte, disse que a condenação dos executores tem um significado importante. "A Comissão Pastoral da Terra fala em 700 mortes no campo nos últimos 30 anos, e esta condenação, mais a dos mandantes, no próximo ano, evita que tenhamos que chorar mais 700 mortes nos próximos 30 anos", disse Felício, confiante em que os mandantes serão condenados.

A senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA), que acompanhou o julgamento, viu na condenação dos executores um fortalecimento do libelo acusatório contra Vitalmiro, Regivaldo e Feijoli. "Eles negaram aqui (no júri), mas o processo aponta que eles estavam envolvidos e que mataram para executar um plano", disse ela, que presidiu a comissão especial do Senado formada para acompanhar as investigações.

Os irmãos de Dorothy, que estavam em Belém, garantiram que voltarão à cidade por ocasião do julgamento dos três mandantes. "Estamos felizes, e o Pará e a Amazônia também", disse David Stang, logo após o término do julgamento. Ele afirmou que a família Stang também está compromissada com a continuidade das ações jurídicas contra os mandantes.

O julgamento dos executores do crime, Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, condenado a 27 anos, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, que recebeu pena de 17 anos de cadeia, realizado entre quinta-feira e sábado passados, foi acompanhado por entidades internacionais, ONGs e emissários da Igreja, em especial da CPT.

Mas as pressões não funcionaram apenas a favor do julgamento dos mandantes. Na platéia do júri que aconteceu esta semana, a mulher de Amair Feijoli, acompanhada por um irmão de Vitalmiro, sentou-se atrás da mãe de Fogoió, Maria Raimunda Sales, e fez várias provocações e ameaças nos momentos em que o assassino acusava Feijoli. "Ela disse que é para eu tomar cuidado", contou Raimunda, que já tinha, antes, dito que temia por sua segurança e da sua família.