Título: "Qual a metodologia que usaram?"
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2005, Nacional, p. A5

Mário Mamede: Secretário de Direitos Humanos

O médico cearense Mário Mamede, secretário de Direitos Humanos e petista desde os anos 80, acha que ONGs e movimentos sociais cometem uma injustiça contra sua área e contra o governo Lula. "As críticas que estão fazendo são injustas e desmedidas", reclama, enquanto critica o relatório das entidades. Eis a entrevista:

A área de direitos humanos do governo foi criticada por um relatório de 21 entidades. Como explicar as cobranças?

Não tivemos acesso a esse documento, que foi direto para a mídia. Não tivemos chance de avaliar nem de nos defendermos das críticas. Algumas entidades que ali trabalham são nossas parceiras. Mas é esquisito o volume das críticas, elas me parecem desmedidas ou injustas.

O relatório faz muitas acusações ao governo, em várias áreas.

Pelo que percebi, o relatório coloca nas costas do governo todos os males do País, põe todos os conflitos sob o manto dos direitos humanos e conclui que está tudo ruim. Mistura assuntos de ministérios diferentes. Parece ignorar que muitas ações dependem de ordens judiciais, outras cabem ao Ministério Público. E há assuntos de esfera federal, estadual e municipal.

O governo federal não precisa considerar prioritária a violência urbana, por exemplo?

Claro que precisa. E está fazendo isso. Fez uma campanha de desarmamento que mobilizou o País, com ajuda de organizações comunitárias. O recebimento de armas foi muito além das expectativas. Organizou um plebiscito contra a venda de armas, que não levou ao resultado que pretendíamos, mas permitiu um debate importante na sociedade.

As ONGs estão decepcionadas e se afastando do governo?

Temos bom relacionamento com praticamente todos os movimentos sociais e acho que críticas ou queixas são normais e devem ser discutidas. O governo abriu frentes de diálogo, como nenhum outro, com organizações ligadas a minorias, índios, mulheres, sem-terra e sem-teto, ampliou controles em áreas de conflitos. Abriu espaços de diálogo que não existiam, cuida da Amazônia, enfrenta com coragem a biopirataria, leva adiante o Fome Zero, o Bolsa-Família já está chegando a 8,5 milhões de famílias.

Por que, então, os números continuam tão negativos?

Sei que há nesses movimentos sociais muita gente dedicada e competente. Mas permita-me perguntar: qual a metodologia que usaram para tirar essas conclusões? Valeram-se de dados como os do IPEA, do PNAD? Fizeram comparações históricas, para afirmar que a situação dos grupos sociais piorou? Desafio qualquer um a citar um indicador social que tenha piorado no governo Lula.

As pesquisas são falhas?

Não é isso. Apenas acho que deveria haver mais diálogo e ponderação nas análises e críticas.

Muitas ONGs dizem que não apoiarão Lula na reeleição.

Isso não é neutralidade. Em ação social não dá para ser neutro. Há uma decisão ideológica inevitável quando alguém desiste de apoiar um governo que faz tudo que este vem fazendo. G.M.F. BR Ministério Público e TCU fazem mapa do nepotismo BRASÍLIA Enquanto o novo presidente da Câmara mantém intocáveis as nomeações dos Cargos de Natureza Especial (CNE), o Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas da União (TCU) investigam os abusos na prática.

O MP já tem em mãos a lista desses funcionários e está fazendo o cruzamento com nomes de parentes dos parlamentares. Um dos técnicos que viram o trabalho diz ser "espantoso" o número de casos de nepotismo que foram encontrados.

O TCU não só está passando um pente fino nos nomes como já se manifestou sobre o assunto. Em 27 de agosto de 2003, o plenário do tribunal respondeu a um pedido do então presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), que pediu orientações sobre as contratações de CNEs. João Paulo havia sido acusado de extrapolar a finalidade desses cargos ao contratar assessores para trabalhar em Osasco, seu curral eleitoral.

A resposta do TCU ficou no meio termo. Liberou a Câmara para criar quantos CNEs a Casa considerasse necessário, mas restringiu a finalidade das nomeações. Os ministros do tribunal discordaram justamente das nomeações feitas para fortalecer as estruturas dos partidos, como é o caso da Liderança do PC do B.