Título: Lula apela a Bush para destravar OMC
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/12/2005, Economia & Negócios, p. B10

O presidente Lula telefonou ontem ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para pedir apoio à sua proposta de realizar um encontro de líderes mundiais, em janeiro, numa tentativa de destravar as negociações de redução de tarifas e subsídios na Organização Mundial do Comércio (OMC). Em conversa de 30 minutos, Lula argumentou que os interesses dos países pobres dificilmente serão bem avaliados na reunião ministerial de Hong Kong, de 13 a 18 deste mês. Pela proposta apresentada por Lula, o encontro pós-Hong Kong, possivelmente numa cidade européia, contaria com a participação de líderes do G-8 (os 7 países mais ricos do mundo, mais a Rússia) e de 7 ou 8 nações em desenvolvimento. O chanceler Celso Amorim, que acompanhou a conversa, disse que Bush considerou "excelente" e viu "com simpatia" a idéia.

A expectativa do governo brasileiro em relação ao encontro da OMC neste mês em Hong Kong é pessimista. "O presidente Bush disse, e o presidente Lula concordou, que Hong Kong não pode ser visto como um ponto final da Rodada Doha, mas é crucial que todos os países estejam de acordo para alcançar resultados vitais para o comércio, o desenvolvimento econômico e até mesmo para a luta contra o terrorismo e a pobreza", relatou Amorim. A proposta de um novo encontro já havia sido apresentada por Lula, na semana passada, ao primeiro-ministro britânico, Tony Blair. A idéia anterior era realizar um encontro de emergência antes de Hong Kong.

Uma eventual cúpula em janeiro ainda teria lógica para diplomatas em Genebra. Pelo cronograma da OMC, o encontro teria de fechar um acordo sobre o ritmo dos cortes de tarifas de produtos agrícolas e de que forma os subsídios dos países ricos a seus produtores seriam reduzidos. Para Brasil e EUA, o obstáculo para esse acordo é a Europa. Bruxelas aceita um corte de suas tarifas de apenas 37%, o que é considerado insuficiente pelo Brasil, que quer cortes de 54% para ganhar maior acesso ao mercado europeu.

Na conversa de ontem, segundo Amorim, Bush agradeceu a liderança do Brasil e do próprio Lula nas negociações da Rodada Doha. "As coisas estão paradas e é preciso fazer a União Européia avançar", afirmou Bush. "Isso vai envolver a necessidade de que alguns países saiam das posições entrincheiradas em que estão hoje", acrescentou, referindo-se à resistência dos europeus.

Lula também relatou a Bush os dados mais recentes do IBGE que apontaram a redução da miséria no Brasil. Segundo Amorim, Bush deu os parabéns a Lula e sugeriu que os dados fossem mostrados nas Nações Unidas. O presidente americano agradeceu o churrasco oferecido por Lula no mês passado e aproveitou para dar os cumprimentos de Natal e Ano Novo"