Título: Fogo amigo ameaça Lula em 2006, dizem petistas
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/12/2005, Nacional, p. A4

Mercadante ataca resolução do partido e cobra sustentabilidade ao governo e à política econômica

A resolução aprovada no fim de semana pela direção nacional do PT, com críticas à política econômica do governo Lula, foi atacada ontem por lideranças ligadas ao presidente. A avaliação é de que o texto foi um "erro" que pode ser prejudicial ao governo e à reeleição de Lula e que representa uma afronta ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, afirmou que o partido segue o caminho inverso, ao adotar postura de enfrentamento. "O partido precisa dar sustentabilidade ao governo e à sua política econômica", sentencia.

Ele criticou ainda a "falta de maturidade" da atual direção nacional do partido - eleita em outubro. "É uma direção nova que quer se afirmar e mostrar independência", disse Mercadante, que não excluiu a responsabilidade do próprio presidente do PT, Ricardo Berzoini, no episódio. "O Berzoini ajudou a desequilibrar o processo."

O presidente do PT foi um dos autores da resolução com críticas à economia de Lula. Já Mercadante foi o principal articulador da tentativa de suprimir do texto a parte que o partido cobra uma redução na taxa de juros e a alteração nas metas de superávit primário. Perdeu a disputa por um voto. "Perdemos por pouco. Vamos trabalhar agora para mostrar que não há espaço para mudar o superávit primário. O governo Lula não vai se enveredar pelo populismo fiscal às vésperas da eleição", disse Mercadante.

O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, foi mais ponderado. Ele classificou as críticas contidas na resolução como "equilibradas", mas afirmou que querer mexer ao mesmo tempo na taxa de juros e no superávit primário, como reivindica o PT, é "uma coisa irreal". "Ajustes podem e devem ser feitos, mas a direção geral da política econômica será mantida", afirmou o ministro.

Wagner considera o texto petista uma afronta ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "O presidente Lula não trabalha com pensamentos monolíticos", observou.

As críticas mais incisivas vieram de um dos principais apoiadores de Lula dentro do Diretório Nacional do PT, Francisco Campos. "É a primeira vez nesses três anos de governo que o PT faz um texto nitidamente com caráter crítico ao ministro Palocci e ao governo Lula. A resolução do diretório é muito ruim para o governo e ruim para e reeleição de Lula. Isso pode sinalizar para o povo que o presidente não tem maioria para aprovar suas posições dentro do partido", disparou Campos - que fez questão, no entanto, de ressaltar a legitimidade das críticas.

Para ele, "atacar a política econômica, que dá sustentabilidade a esse governo, é fragilizá-lo num momento delicado de pré-eleição". Campos disse ainda que a resolução mostra que o PT está "dividido" e "precisa afinar seu discurso para 2006".