Título: Queda do PIB não foi um acidente analisa Furlan
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2005, Economia & Negócios, p. B6

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem que a desaceleração da economia este ano é resultado de um "esforço deliberado" de contenção da inflação. "Não é um acidente, não dá para dizer que aconteceu por acaso. Medidas monetárias foram tomadas para esfriar a economia, associadas a questões conjunturais, como a quebra de safra agrícola", afirmou. Furlan evitou a polêmica sobre a dosagem usada pelo Banco Central (BC) para baixar a inflação, mas disse que houve exagero em diversas áreas, inclusive no comércio exterior. "Não desejávamos US$ 44 bilhões de superávit este ano. O Brasil não precisa de um superávit de US$ 44 bilhões."

Segundo ele, o saldo elevado é resultado do esfriamento da economia, que derrubou as importações. "O ideal para 2006 é que as importações cresçam numa velocidade maior que as exportações", disse. "Em 2006, terão de ser ajustadas as metas em várias áreas para que o Brasil possa crescer e as empresas ganhem competitividade."

Para o ministro, "em condições normais" o superávit comercial poderia ser de US$ 20 bilhões. Ele chamou de condições normais uma taxa de juros de um dígito (hoje é de 18,5% ao ano). Segundo ele, um superávit comercial alto era essencial no início do governo para "dar uma grande zona de conforto" ao risco país e aos investidores internacionais. Furlan lembrou que, nos três anos de governo Lula, o saldo comercial é de mais de US$ 100 bilhões e deve ficar acima de US$ 30 bilhões em 2006.

Furlan informou que o superávit comercial atingiu anteontem os US$ 41,183 bilhões, resultado de exportações de US$ 110,045 bilhões e importações de US$ 68,862 bilhões. A meta de US$ 117 bilhões de exportações este ano será superada, disse. O saldo comercial deve ficar em US$ 44 bilhões, US$ 2 bilhões acima da estimativa do governo. Diante dos dados de 2005, o ministro disse que a meta de US$ 120 bilhões de exportações em 2006 será revista.

RESULTADO SETORIAL

Furlan avaliou que as empresas passam por "um período de provação", mas se saem muito bem. Segundo ele, a combinação de câmbio valorizado e juro alto tem impacto tanto no comércio exterior quanto na demanda interna. Como exemplo, citou o setor de calçados. "É um setor que, infelizmente, sofre mais que os outros. Inflação aleija, mas câmbio mata, como dizia Mário Henrique Simonsen", disse Furlan, parafraseando o ex-ministro da Fazenda.

MP DO BEM 2

Furlan disse não fazer parte das prioridades do governo neste momento editar a "MP do Bem 2", que prevê a desoneração de produtos da cesta básica e da construção civil. A prioridade é aprovar a Lei Geral das Pequenas e Microempresas, que já se está no Congresso.

RISCO PAÍS

Furlan vai abrir outro champanhe francês Cristal para comemorar nova queda do risco país do Brasil. Ele espera que a barreira dos 300 pontos seja quebrada ainda em dezembro. "Isso era inimaginável por vocês, mas por mim, não. Tenho um champanhe Cristal geladinho em casa, me esperando", confessou ontem a jornalistas convidados para um café da manhã no ministério. Ontem, o risco estava em 317 pontos.

Para não estragar a festa, Furlan disse que desta vez decidiu não entregar o champanhe para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, guardar. "Da outra vez, ele tomou escondido. Aí, quando falei: vamos comemorar, ele fez aquela cara de bispo", contou. Ao ser indagado sobre a cara de bispo do ministro, Furlan explicou, aos risos, e impostando a voz para imitar o colega: "O Palocci é uma pessoa muita serena, então, ele faz aquela cara de bispo e diz: meus irmãããos, a champagne eu já tomei".

Em junho de 2003, Furlan havia desembolsado 100 euros para comprar uma garrafa de Cristal. Entregou a garrafa a Palocci e eles combinaram abri-la quando o risco país caísse abaixo dos 400 pontos. A marca só foi atingida de forma consistente no fim de 2004.

A comemoração dos 400 pontos foi feita na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nessa época, Furlan também afirmou que pretendia ver o risco país despencar para 300 pontos em dezembro deste ano e para 200 pontos no final de 2006. Furlan disse ainda que teria que providenciar outro champanhe Cristal para comemorar os novos recordes. "A verdade é que verifiquei ontem à noite e a garrafa está lá na geladeira", disse, chamando a atenção para o fato de o preço da champanhe estar mais barato em real.

O risco país é um indicador usado por investidores internacionais para decidir quais títulos de dívida comprar. O número reflete, basicamente, o risco de calote.