Título: Chávez conclama futuro 'radical'
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2005, Economia & Negócios, p. B4

Presidente venezuelano classifica de 'vital' o ingresso de seu país no Mercosul e diz que 'plano colonialista' da Alca está 'morto'

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, declarou ontem que a entrada de seu país no Mercosul será "fundamental". Chávez, o primeiro presidente estrangeiro a desembarcar na capital uruguaia para participar da 29ª reunião de cúpula do Mercosul, que se encerra hoje, afirmou que o ingresso no bloco do Cone Sul não é somente "vital" para a Venezuela, mas também para o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Chávez convocou os povos da região a serem "radicais para construir o futuro". Ele criticou o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), afirmando que está morto e era um plano colonialista dos EUA. Segundo o presidente venezuelano, a América do Sul precisa de outro modelo de desenvolvimento.

Pouco depois de ser recebido pelo presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, Chávez partiu para o vilarejo de Bolívar, distrito uruguaio que homenageia o libertador da Venezuela, o general Simon Bolívar, herói idolatrado por Chávez (em 1999 ele obteve a mudança do nome do país para República Boliviariana da Venezuela). O vilarejo, de 170 habitantes, a 90 quilômetros de Montevidéu, foi um dos lugares escolhidos por Chávez para realizar investimentos.

Chávez pretende que a Venezuela seja aceita como membro pleno (status de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) do Mercosul e não como membro associado (status de Chile, Bolívia e Peru), categoria que lhe conferiria, além de menos prestígio, menores deveres e direitos. Ontem o chanceleres dos países do Mercosul admitiram a adesão política da Venezuela, antes da adesão comercial.

O presidente argentino Néstor Kirchner é - depois do próprio Chávez - o principal interessado na entrada da Venezuela no Mercosul. Com a Venezuela, Kirchner conseguiria reduzir o peso relativo do Brasil no bloco. Além disso, a Argentina precisa do petróleo venezuelano para driblar as crises energéticas que ameaçam esfriar a economia argentina desde o início do ano passado.

De quebra, a Venezuela se transformou em grande compradora de títulos da dívida pública argentina. Desde maio, adquiriu US$ 985 milhões em títulos que Chávez denomina de "bônus Kirchner".

Ele costuma afirmar que são mais confiáveis e lucrativos do que os bônus do Tesouro de "Mister Danger"(Senhor Perigo), como costuma chamar o presidente americano George W. Bush.

O presidente uruguaio também tem interesse na entrada da Venezuela, já que Chávez anunciou que a estatal petrolífera venezuelana PDVSA vai fazer investimentos no Uruguai. Uruguaios e venezuelanos discutem há meses parcerias entre a PDVSA e a uruguaia Ancap. Entre os pontos estão a ampliação da refinaria de La Teja, em Montevidéu ( única do país) e a entrega de áreas da Ancap para exploração petrolífera na região do Rio Orinoco.