Título: O grande instrumento do crédito
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2005, Economia & Negócios, p. B2

Este ano de 2005 será marcado por uma forte expansão do crédito ao consumo, fato bastante paradoxal, uma vez que se recorde que o Banco Central veio justificando a manutenção elevada da taxa Selic como meio de conter o consumo. A grande novidade do ano, sem dúvida, foi o crédito em consignação, que permitiu aos bancos deduzir as prestações do empréstimo da folha de pagamento do mutuário. O crédito em consignação chegou a representar, em setembro, 76,9% de todo o crédito pessoal do mercado, cujo saldo naquele mês era de R$ 60,628 bilhões. No entanto houve outra fonte de financiamento doméstico: os cartões de crédito, que acusaram, em novembro, um aumento de 28% em relação ao mesmo mês do ano passado, movimentando R$ 19,4 bilhões, valor apenas inferior às operações consignadas dos bancos e do INSS de setembro, estimadas em R$ 21,264 bilhões, e, no mês, as novas concessões foram de R$ 1,964 bilhão.

Segundo um levantamento divulgado pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), o número de cartões em novembro era de 335 milhões, com crescimento de 23% em relação ao mês anterior, sendo 66 milhões de cartões de crédito, com transações de R$ 11,7 bilhões e aumento de 25% em relação ao mês anterior, mais as transações com cartões de débito, de R$ 5,6 bilhões, às quais devem se somar R$ 2,1 bilhões em transações com cartões de lojas.

Sob o ângulo do crédito, só o primeiro e terceiro grupos de cartões interessam.

É de notar que o número de cartões é muito superior ao número de famílias, o que significa que elas aceitam as ofertas (até cansativas) dos bancos e administradoras, o que permite aumentar a demanda de crédito. O número de cartões de loja não aumentou em relação ao mês anterior, e o valor das transações é relativamente baixo (R$ 2,1 bilhões), o que parece indicar que as famílias preferem cartões de bancos que oferecem maiores facilidades para pagamento e maiores possibilidades de financiamento em caso de inadimplência.

Cumpre notar que o valor médio das compras para as três modalidades de cartões ficou, em novembro, em R$ 58, muito baixo, o que parece confirmar que são as famílias de baixa renda que usam mais os cartões de crédito.

Isso se explica pelo fato de os bancos estarem perseguindo os clientes para aceitarem cartões, especialmente de débito, uma modalidade que permite ao consumidor andar com menos dinheiro no bolso e é cada vez mais aceita pelas empresas, que assim reduzem o risco de inadimplência.