Título: Irmãos de Dorothy chegam a Belém e pedem justiça
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2005, Nacional, p. A12,13

Eles vão acompanhar julgamento dos acusados do assassinato da missionária

Preocupados. Mas esperançosos. Esse é o estado de espírito dos dois irmãos da missionária americana Dorothy Stang que chegaram ontem à capital do Pará para acompanhar o julgamento dos dois homens acusados de tê-la assassinado. Margarida Stang, cujos traços lembram muito os da irmã, não escondeu a preocupação diante do histórico dos casos de impunidade em crimes semelhantes ocorridos no Pará. O cenário do conflito por terras na região foi apresentado a ela por organizações religiosas.

Suavemente, ela acrescentou: "Confio em Deus. Pode ser até que tenhamos aqui um novo começo, o início de uma era de justiça para os pobres."

Margarida, de 72 anos, e o caçula David, de 68, vieram representando toda a família de Dorothy - que tinha 7 irmãos e 51 sobrinhos. Durante a entrevista coletiva que deram ontem em Belém, os dois mostraram-se cautelosos nas referências ao sistema judiciário e ao governo brasileiros e negaram que autoridades americanas tivessem interferido de alguma forma no caso. "Estamos animados por uma grande esperança nos advogados que atuam no caso", disse David, que trazia nas mãos um livro sobre como aprender português em 20 lições.

"Acompanhamos com interesse todas as investigações feitas pela polícia brasileira. Elas são a nossa única referência. Não tivemos contatos com o FBI nem com qualquer outra instância da polícia americana sobre o caso", afirmou ele.

AMEAÇA

Diante da informação de que a defesa dos acusados pelo assassinato irá recorrer à tese da vitimologia, afirmando que Dorothy era uma causadora de confusões na região e acabou provocando sua própria morte, os dois irmãos mostraram tranqüilidade.

"Tenho certeza de que a minha irmã era amada pelas pessoas com quem trabalhava. Uma vez fui visitá-la e fiquei impressionada com a quantidade de pessoas que a rodeavam para conversar, cumprimentar. Eram tantas que nem dava para atender todas", comentou Margarida.

Em outra visita ao Pará, a irmã da religiosa assassinada viu de perto o perigo que a rondava. "Era o mês de setembro de 1986. Saímos para comer num restaurante, em Altamira, quando um fazendeiro se aproximou da mesa onde estávamos e disse para ela: 'Um dia vamos pegar você.' Nunca esqueci", relatou. "Até hoje ainda consigo ver a raiva que ele tinha no rosto. Perguntamos porque estava fazendo aquilo e ele repetiu que um dia iriam pegá-la."