Título: Representante da ONU ouve relatos de entidades sobre violência na região
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2005, Nacional, p. A12,13

Na quarta-feira, a advogada paquistanesa Hina Jilani esteve em Marabá, no sudoeste do Pará, a 438 quilômetros da capital. Lá, reuniu-se durante seis horas com representantes de entidades de defesa dos direitos humanos, ouvindo relatos sobre as dificuldades e as ameaças que eles enfrentam. Também ouviu representantes do Judiciário e das polícias civil e militar. Ontem, em Belém, ela fez a mesma coisa. Com o rosto impassível e uma paciência extraordinária, passou três horas numa sala pequena e abafada, no centro da cidade, ouvindo depoimentos e recebendo relatórios. Ao final, a advogada, que é a representante especial do Secretariado-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Defensores dos Direitos Humanos, disse que ainda é cedo para tirar conclusões, mas já possui fortes indicadores das ameaças que pairam sobre pessoas que atuam no Pará. Também mencionou que freqüentemente a segurança pessoal desses ativistas está sob risco.

Hina está no Brasil a convite do governo, para tomar pé a situação dos defensores dos direitos humanos e das medidas que têm sido tomadas para defendê-los. Ao final da visita, que deve se prolongar até o dia 20, ela redigirá um relatório, para ser entregue ao governo e à ONU. Ontem, ela adiantou que provavelmente recomendará mais atenção à proteção dos ativistas.

Hoje pela manhã, a representante da ONU vai assistir ao início do julgamento dos dois homens acusados de terem assassinado Dorothy Stang, que se dedicava à defesa dos interesses dos trabalhadores rurais da pequena cidade de Anapu.

Antes de entrar na sede do Tribunal de Justiça do Pará, onde ocorrerá o julgamento, ela visitará o acampamento de trabalhadores montado na praça que fica diante do fórum e, mais uma vez, ouvirá relatos de pessoas ameaçadas de morte por fazendeiros e grileiros.

Amanhã, a representante da ONU viaja para Salvador, onde permanecerá durante dois dias. O seu roteiro também inclui as cidades de Recife, Cabrobó, São Paulo, Florianópolis, Campos Novos e, finalmente, Brasília.

A presença da advogada paquistanesa no tribunal do júri é um dos indicadores da atenção que o caso Dorothy tem despertado nas entidades de defesa dos direitos humanos. Em Belém, a Sociedade Paraense de Direitos Humanos aproveitou a semana para realizar encontros e debates sobre o tema.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) decidiu enviar dois representantes para a cidade: os bispos d. Tomás Balduíno, que preside a Comissão Pastoral da Terra (CPT), e d. Luiz Azcona, responsável pelas pastorais sociais.