Título: 'Eu tenho raiva das pessoas que a mataram'
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2005, Nacional, p. A12,13

Durante a entrevista coletiva concedida ontem pelos familiares da freira Dorothy Stang, em Belém, uma das declarações mais duras saiu da boca do irmão David: "Minha irmã era uma grande mulher. Deu a vida pelas pessoas que amava, assim como um pai dá a vida pelos filhos." Em seguida, David fez um desabafo. "Tenho raiva das pessoas que a mataram. Acho que não acreditam em Deus. Se acreditassem, não teriam matado um mensageiro dele."

Dorothy costumava visitar a sua família nos Estados Unidos a cada três anos, de acordo com a irmã Margarida, e era festejada pelos irmãos e sobrinhos.

"Tenho 8 filhos e 20 netos. Todos gostávamos muito dela", destacou Margarida. "Ela não nos dizia, mas sabíamos que corria risco de vida. Nunca pedimos para sair do Brasil que tanto amava - e que também aprendemos a amar - porque sabíamos que seria o mesmo que pedir a uma mãe para deixar os filhos para trás."

CONGREGAÇÃO

Também vieram dos Estados Unidos, para acompanhar o julgamento dos dois homens acusados pelo crime, duas religiosas da congregação Notre Dame de Namur, à qual pertencia a irmã Dorothy.

Nas audiências do tribunal do júri, que começa hoje em Belém, também estarão presentes religiosas brasileiras, padres e bispos que atuam na defesa da reforma agrária.