Título: Presidente é informado das queixas, mas decide ficar em silêncio
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2005, Nacional, p. A4

Só no fim da tarde o presidente Lula foi informado por assessores das declarações do ministro Luiz Fernando Furlan. O presidente recebeu, no gabinete no Palácio do Planalto, cópia de reportagem divulgada à tarde pela Agência Estado. E mais uma vez preferiu não se manifestar. Segundo assessores, ele sabe da insatisfação de Furlan, que nos últimos meses tem se queixado nas reuniões com colegas da política econômica e da falta de objetivos claros para o desenvolvimento. Lula, contam os auxiliares, ouve atentamente e demonstra respeito por suas considerações, mas não faz nada.

Apesar da admiração do presidente, no palácio Furlan é visto como o "Alencar da questão do desenvolvimento", numa alusão às críticas às taxas de juros do vice-presidente José Alencar. Segundo um ministro, Furlan, como o vice, está sempre batendo na mesma tecla.

Lula prefere os argumentos de Palocci, segundo assessores. E espera que até a reunião ministerial do dia 19 Furlan não volte a fazer críticas públicas. O presidente teria, então, tempo para avaliar a questão. Um auxiliar disse que com certeza Lula vai chamar a atenção de Furlan assim que ele voltar ao Brasil.

O presidente do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, que esteve ontem com Lula, avaliou que a perspectiva para 2006 não é tão desanimadora como diz Furlan. Ele ponderou que não leu a entrevistas, mas lembrou que no próximo ano haverá eleição. "É um ano em que a economia recebe estímulo."

SURPRESA

No Congresso, a crítica de Furlan causou surpresa. Para o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), hoje o Brasil é muito diferente daquele que foi encontrado pelo presidente Lula no início do governo. "Se o ministro disse mesmo que o Brasil está sem rumo, que não há projetos, ele está equivocado", disse. "O Brasil é hoje muito melhor que o de três anos atrás, em parte pela ação de Furlan, que o presidente Lula considera um dos melhores de sua equipe."

O senador Tião Viana (PT-AC) ficou irritado com as críticas. "Não posso acreditar que Furlan disse isso. Se disse, não pode mais pertencer à equipe do presidente Lula", argumentou. "Tem de ser demitido".

O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), apoiou Furlan. "O governo é tão despreparado, tão sem capacidade de gestão que não consegue nem gastar o dinheiro do excesso de arrecadação", criticou. "Um governo tem de ter adestramento, saber que setores mais precisam de investimentos, fazer licitações rápidas e ter percepção de onde não terá obstáculos jurídicos para suas obras. O atual não consegue nada disso. Não tem idéias nem projetos."