Título: Críticas também para taxas de juro e câmbio
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2005, Nacional, p. A4

Na mesma reunião da Organização Mundial do Comércio, em Hong Kong, o ministro Luiz Furlan criticou também as altas taxas de juros e o câmbio e avisou: as exportações crescerão, em 2006, a um ritmo menor que o registrado este ano. Mesmo assim o ministro de Desenvolvimento estima que, nos próximos 12 meses, as exportações brasileiras devem ficar acima de US$ 120 bilhões, que era a projeção inicial do governo. "Estamos reavaliando nossa meta e achamos que os números podem ficar acima de US$ 120 bilhões. Mas mesmo assim, as exportações crescerão com uma velocidade menor". Para 2005, a meta de US$ 117 bilhões já foi atingida. Segundo ele, 56% da pauta de exportação do País é composta de produtos industrializados. Em 2006, essa taxa deverá cair e isso, na avaliação do ministro, "não é bom". Já os produtos de menor valor agregado, como os das atividades agrícolas e de mineração, devem aumentar sua participação. "O câmbio vai modificar o perfil das exportações brasileiras no próximo ano", explicou.

Segundo ele, o "mix" de juros altos e câmbio desfavorável está criando problemas para as empresas que exportam produtos de maior valor agregado e com mão-de-obra intensiva. Há alguns setores - prosseguiu o ministro na entrevista - que já começam a sofrer com o câmbio e em alguns deles, como o de calçados, já há desemprego.

Entre setembro e novembro, a venda de calçados exportados pode cair em 11 milhões de pares. "Vamos fechar o ano com uma queda de 20% no volume exportado desse setor. A queda é dramática", afirmou.

Outro problema é a alta taxa de juros. Nesse caso, os principais efeitos são para a produção e venda doméstica das empresas. "As taxas de juros derrubam a demanda no mercado interno", avisou.

O ministro reconheceu também que não tem uma receita sobre como lidar com os juros. "Se eu soubesse, seria consultor e iria ganhar dinheiro", brincou, na entrevista.

Questionado se estava otimista com uma eventual queda de juros em uma semana do Copom, ironizou: "Se estou em uma reunião da OMC em Hong Kong e estou otimista com as negociações comerciais, como não vou estar otimista em relação ao juros?" As negociações da OMC passam por uma crise e não se prevê uma conclusão positiva para o encontro.

Para Miguel Rossetto, ministro do Desenvolvimento e Reforma Agrária, as atuais taxas de juros só se justificam pelo fato de o País estar "em um período de transição".