Título: Críticas do PT à economia irritam Lula e Palocci
Autor: Vera Rosa e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2005, Nacional, p. A5

As críticas mais contundentes do PT à política econômica preocuparam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e irritaram o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Menos pelo que está escrito na resolução aprovada sábado na reunião do Diretório Nacional do PT e mais por suas pistas. Na prática, o texto indica que Lula terá dor de cabeça com o partido quando for fechar as alianças para sua candidatura à reeleição, em 2006, e definir o novo programa de governo. Será mais um problema para ele num cenário de grave crise política. Desde que o moderado Campo Majoritário perdeu a hegemonia no PT com a eleição da nova diretoria, em setembro, Lula ficou com sua rede de proteção capenga. "O PT vai ter que escolher: se quer que se mexa na taxa de juros ou no superávit primário. Nas duas variáveis não dá", disse o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner. "Precisamos agir com racionalidade."

A resolução que recebeu sinal verde da cúpula do PT prega redução dos juros e do superávit - a poupança feita pelo governo para pagamento dos juros da dívida pública. Mais: diz que o País "não pode e não vai" aprisionar seu futuro dentro da "camisa-de-força" imposta pela dívida pública e por altas taxas de juros. Além disso, o PT defenestrou a proposta de déficit zero, sob o argumento de que o plano segura investimentos e gastos sociais.

"Só quero lembrar que a estrada já está escolhida pelo presidente. Agora, a velocidade depende do que ele vai encontrar pela frente: se tem curva, se tem óleo na pista....", avisou Wagner.

No Encontro Nacional do PT, em abril, o confronto entre a prática do governo e a teoria do partido ficará mais evidente. Se depender de Lula, por exemplo, as alianças serão amplas - embora a crise torne esse cenário improvável. Se depender do PT, restrita a partidos de esquerda.

Ex-ministro do Trabalho e da Previdência, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, disse que as críticas são ao tamanho do superávit e à intensidade da política econômica. Para ele, é preciso puxar o governo para a esquerda. "Queremos que o último ano do governo Lula seja o primeiro do segundo mandato", concordou o secretário-geral do PT, Raul Pont. "Não é a submissão que vai apontar nosso apoio ao governo."

Para Joaquim Soriano, secretário-geral adjunto do PT, o encontro vai realçar os laços petistas com os movimentos sociais. "O que atrapalha Lula não é o PT. É a política de juros escorchantes e de superávit sem noção", afirmou Soriano, que, assim como Pont, é da Democracia Socialista. "As críticas são consenso nacional: até os banqueiros reclamam." Soriano disse que a mudança proposta por Lula não pode ser apenas uma peça de marketing. "Se há consenso contra a política econômica, e se ele quer ganhar a eleição, tem de mudar."

Não é o que pensa Francisco Campos, secretário-adjunto de Organização do PT. "Como vamos enfrentar uma eleição? Vamos fazer oposição a nós mesmos?" Irônico, Soriano disse que tanto Campos como Jilmar Tatto, vice-presidente do PT, fazem parte de uma "seita paloccista", na qual não há espaço para críticas ao ministro. "Não é isso. O problema é que o fogo amigo só atrapalha", reagiu Campos