Título: Alckmin assume candidatura na TV e ataca Lula
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2005, Nacional, p. A7

Em voz firme, num tom convicto que não permitia interrupções, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) fez ontem mais um ensaio de campanha presidencial, dizendo no programa Roda Viva, da TV Cultura, que "o Brasil está preparado para dar um salto de qualidade" e que é preciso "sair desse marasmo e fazer as reformas que o atual governo não fez". Alckmin não esperou um segundo para afirmar, logo na abertura do programa, numa única palavra, curta e seca, que é candidato: "Sou", disse - e ficou esperando. A seguir, desandou a falar do governo Lula e do que faria se estivesse no lugar dele: "O governo Lula tem sido uma contínua perda de oportunidades. A política de juros está errada. Não levou adiante nenhuma das reformas ou outras promessas de campanha."

Disse que quer ser presidente pra fazer as reformas que no Brasil não foram feitas - a reforma tributária, o corte de gastos públicos. "Cada brasileiro trabalha quatro meses no ano, e vai até meados de maio só para sustentar o governo', atacou.

Ele acusou o governo de fazer superávit e não cortar gastos. "É infinita a possibilidade de cortar gastos", garantiu. "E eu tenho experiência acumulada", completou, quando lhe perguntaram sobre a necessidade de mostrar "algo mais" além do perfil de bom gerente.

Não demorou para que a conversa, na qual se manteve sempre no ataque, derivasse para a corrupção na política. Alckmin evitou críticas diretas ao presidente Lula ou ao PT, mas não amaciou: "Ética é ter um governo eficiente", observou. "Não é só não roubar e não deixar roubar. Governar é um conjunto. Disputa política não é uma luta patrimonialista, tomar o poder para si, para seu time. Política é serviço, um instrumento para trabalhar para as pessoas. Ninguém vai ganhara eleição falando mal dos outros."

Em várias ocasiões o governador atacou, sem meias medidas, a política de juros do País. "Como não tem credibilidade, o governo Lula está sendo gerenciado de maneira errada", destacou. "O governo Lula deixou passar todas as oportunidades. Fernando Henrique primeiro estabilizou a moeda. Depois enfrentou quatro crises internacionais, e foi em frente."

Ele também reagiu prontamente às provocações sobre sua disputa com o prefeito José Serra pela candidatura. "Ninguém deve ser excluído por W. O.", disse. "Não posso responder pelo prefeito", ponderou, sobre se ele seria ou não seu rival na convenção do PSDB no ano que vem. "Vocês querem me intrigar com o Serra...", brincou. No mesmo momento de sua entrevista, Serra também era entrevistado pelo programa de Hebe Camargo, no SBT.

O governador não perdeu a oportunidade de vender a imagem de administrador experiente: "Você não pilota um Airbus sem ter antes passado por um monomotor, um bimotor", comparou. "Fui prefeito, fiz oposição por muitos anos no Estado e ao governo federal. Fui co-piloto de um grande comandante, Mario Covas. E tive seis anos no governo. E São Paulo é um país, maior que a Argentina".

Voltou a dizer, também, que não mudou de opinião sobre a reeleição: "Acho cedo pra concluir que a reeleição não deu certo.É cedo para dizer se a reeleição foi boa ou ruim. Tivemos um presidente só, para já ter uma opinião segura". Eleição em quatro anos, sem reeleição, avisou, "é muito pouco".

Alckmin disse em outro momento que a Previdência "é um Robin Hood às avessas" e um de seus maiores desafios é trazer a informalidade para dentro do sistema de trabalho formal. Depois, respondeu a perguntas polêmicas sobre aborto, religião, deixando a impressão de que está se preparando, disciplinadamente, para embates nessas áreas. Definiu-se, por exemplo, como um homem "que não tem idéias arraigadas, dos anos 50", e que o que lhe interessa "é projetar o futuro". Não perdeu chance de falar de suas realizações - cortes em alguns tipos de impostos, economia com a compra de equipamentos por meio de leilões eletrônicos, e algumas obras, como o metrô.

E conseguiu, também, manter o bom humor ante a pressão das perguntas. Por exemplo, quando um entrevistador lembrou que ele é chamado de "picolé de chuchu", por ser pouco assertivo nas declarações. "Não tenho medo de cara feia", replicou. "Os tais carismáticos, agressivos, perderam a eleição e o chuchu aqui teve milhões de votos", completou, provocando risos entre os jornalistas.