Título: 'Fundos e Valério terão tratamento igual', diz ACM Neto
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2005, Nacional, p. A8

O sub-relator da CPI dos Correios Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) aprofundou ontem o conflito com os fundos de pensão, investigados pela suspeita de terem feito deliberadamente operações no mercado financeiro que resultaram em perdas milionárias. ACM Neto disse que os fundos serão tratados "como investigados" e que a CPI só lhes repassará informações que não atrapalhem as investigações. "Para mim, os fundos e Marcos Valério dão no mesmo. Enxergo qualquer investigado da CPI da mesma forma. Os fundos não devem se sentir protegidos pelo volume de investimentos que movimentam. Pressão comigo não tem vez", disse ele, ao iniciar uma reunião com os técnicos que analisam as operações financeiras de 14 fundos.

Uma das linhas de investigação da CPI é descobrir se parte das perdas dos fundos, que ao todo somaram R$ 729,1 milhões, somente em aplicações no mercado futuro (derivativos), foi direcionada ao esquema montado pelo empresário Marcos Valério para repassar recursos a partidos políticos.

Os fundos de pensão estão contestando o relatório que ACM Neto apresentou na semana passada. Alguns prometeram entrar na Justiça contra o deputado e reclamam uma oportunidade de apresentar explicações. "Os fundos terão todo direito de defesa. A CPI vai dar as informações que puder dar, mas não dará as informações que comprometerem as investigações", disse o sub-relator.

LIGAÇÕES INDIRETAS

ACM Neto disse que, embora ainda não tenha encontrado o elo direto entre Valério e as perdas dos fundos de pensão, uma empresa ligada ao empresário está entre os investidores que tiveram grandes lucros no mesmo momento em que os fundos perdiam. O deputado não revelou o nome da empresa. Outras duas corretoras ligadas ao esquema de Valério estão no relatório dos fundos de pensão. A Bônus Banval, que repassou dinheiro para o PP, está na lista de corretoras que fizeram operações para os fundos que resultaram em perdas. Um dos sócios da Guaranhuns, que repassou dinheiro ao PL, José Carlos Batista, lucrou R$ 7 milhões no período em que os fundos tiveram perdas.

"Sabemos que José Carlos Batista serviu de laranja para acobertar outras operações no mercado financeiro e agora ele vai voltar à CPI sem poder mentir como mentiu antes", disse ACM Neto. No primeiro depoimento, Batista disse não ter ligação com o valerioduto.

O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), sub-relator da CPI dos Correios para assuntos de fundos de pensão, disse que pretende ouvir na próxima quinta-feira representantes do Prece, fundo dos empregados da Companhia de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae).

O Prece foi o fundo de pensão que teve as maiores perdas em operações suspeitas. Depois de mapeamento feito pelos técnicos da CPI dos Correios, foi constatado que essas perdas estavam objetivamente relacionadas com ganhos obtidos por investidores que tiveram altos lucros em período idêntico, sugerindo que as operações de perdas, numa ponta, e ganhos, na outra, eram perfeitamente casadas.

Segundo ACM Neto, as apurações feitas pela CPI já comprovaram que alguns bancos importantes estão na lista dos grandes beneficiários com as perdas dos fundos de pensão. Agora os técnicos da CPI buscam os nomes dos investidores que recorreram a esses bancos para fazerem a programação das operações.