Título: Procurador tenta blindar acusados, diz sub-relator
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2005, Nacional, p. A5

Integrantes da CPI reagem a declarações de Souza sobre pedido de prisão de Valério

Integrantes da CPI dos Correios reagiram indignados ontem à declaração do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, de que não há motivos para pedir a prisão preventiva do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e que o assunto gera apenas "notícia de jornal". O relator-adjunto da CPI, Eduardo Paes (PSDB-RJ), disse que o procurador não deveria falar daquela forma, "sob pena de as pessoas desconfiarem que ele está agindo como engavetador". "Os mais maledicentes diriam que parece ter uma tendência natural para proteger e para blindar os envolvidos", provocou Paes.

Pouco antes, o relator, Osmar Serraglio (PMDB-PR), tinha reiterado o argumento de que Marcos Valério deve ser preso porque está atrapalhando as investigações. Serraglio sustenta sua tese na perícia do Instituto Nacional de Criminalística segundo a qual agências de publicidade de Marcos Valério adulteraram 80 mil notas fiscais e usaram algumas delas para tentar comprovar recursos recebidos por instituições federais.

"Dessa maneira, a Polícia Federal não vai chegar a lugar nenhum. O Ministério Público se precipitou em desqualificar meu pedido (de prisão preventiva). Seguramente o procurador não leu o laudo da polícia técnica", disse Serraglio, que, na quarta-feira, pediu ao delegado da Polícia Federal Luiz Flávio Zampronha que fosse solicitada à Justiça a prisão de Valério. A CPI não tem autonomia para fazer o pedido.

Serraglio reiterou o temor de que prevaleça "a impunidade" e que Valério não seja punido pelo milionário esquema de caixa 2. Sem medidas "enérgicas", disse ele, Valério levará "mais de vinte anos" para ser preso.

O senador Romeu Tuma (PFL-SP) sugeriu que o Ministério Público tenha um representante permanente na CPI, acompanhando as investigações. Já o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), pediu que os parlamentares façam esforço para evitar confrontos com o Poder Judiciário. Afirmou que o pedido de prisão preventiva era "um posicionamento pessoal" do relator, mas que "o procurador da República só pode emitir opiniões quando instado oficialmente e talvez não tenha todas as informações" sobre a investigação da CPI.