Título: Oposição ajuda e Palocci vai depor só em 2006
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2005, Nacional, p. A5

Convocação deve ser aprovada terça-feira, mas recesso impedirá depoimento neste ano

Com o apoio da oposição, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, conseguiu adiar para o ano que vem o seu depoimento à CPI dos Bingos. A convocação deverá ser aprovada na terça-feira, mas a proximidade do recesso parlamentar, que começa dois dias depois, impedirá o comparecimento de Palocci antes da virada do ano. O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), demonstrou desconforto com a situação. Para ele, se Palocci estivesse interessado em colaborar, como chegou a declarar, iria à CPI no dia seguinte à aprovação da convocação. "Quer apostar como ele vai viajar?", ironizou o senador. "Até ouvi dizer que o ministro vai entrar em férias."

Palocci será chamado à comissão para falar principalmente sobre as denúncias de corrupção na administração municipal de Ribeirão Preto, durante o período em que ele foi prefeito. Terá de esclarecer, ainda, operações suspeitas de órgãos vinculados ao Ministério da Fazenda, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que teria favorecido empresários com linhas de crédito em Angola, e do suposto pagamento de propina na renovação do contrato da Caixa Econômica Federal (CEF) com a multinacional Gtech.

Muito ligado ao ministro, o senador Tião Viana (PT-SP) disse que o adiamento da inquirição "mostra respeito pelo que Palocci representa". Diante do enfraquecimento de Palocci, cuja política econômica tem sido questionada dentro e fora do governo, a oposição não quer aumentar demais a pressão.

"Ele está na fritura e não seremos nós quem vamos aumentar o fogo", justificou um parlamentar oposicionista. Segundo ele, o ministro fez chegar à oposição a informação de que entregará o cargo ao presidente Lula se tiver de se explicar à CPI.

"Ele deve se constranger diante da inclusão de extrato de tomate refinado com ervilha na cesta básica da merenda escolar", alega um senador, referindo-se ao episódio constatado na gestão de Palocci em Ribeirão. No caso, a denúncia é de licitação dirigida.

O líder do PFL, senador José Agripino (RN), tem como certo que a convocação do ministro será aprovada. "Estamos trabalhando voto a voto", alega. Ele diz que não acredita na ameaça do ministro de deixar o cargo.

Primeiro, porque perderia o foro privilegiado de ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Seria, então, indiciado na mesma lista de seus amigos, da chamada "República de Ribeirão Preto". O outro argumento de Agripino é que tal procedimento se equivaleria a uma confissão de culpa, o que, na sua opinião, "não é o que fazem os auxiliares de Lula".