Título: Fundos querem ir à Justiça contra CPI
Autor: Mônica Ciarelli, Jacqueline Farid e Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/12/2005, Nacional, p. A4

Valia, Petros e Previ, entre outros, dizem não ter sido ouvidos e não sabem como os números foram obtidos

Irritados com as acusações de prejuízo e corrupção em operações de 2000 a 2005, feitas na terça-feira em relatório parcial do deputado ACM Neto (PFL-BA), os fundos de pensão decidiram entrar na Justiça contra a CPI dos Correios. Seus representantes passaram parte do dia de ontem reunidos na Valia, fundo dos empregados da Companhia Vale do Rio Doce, debatendo alternativas jurídicas. Wagner Pinheiro, presidente da Petros (da Petrobrás) contou que vai mandar hoje carta à CPI pedindo explicações, para que o fundo possa se defender.

"Com todo o respeito, vamos pedir explicações sobre como o relatório foi feito, critérios usados, o que são esses números", explicou, no fim da tarde. "O que é muito inusitado: eu ter de pedir a um órgão fiscalizador o direito de saber o que está fazendo, para que eu possa me defender." Ele e Sérgio Rosa, presidente da Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, consideraram um "desrespeito" a divulgação antecipada do relatório.

À noite, os fundos informaram em nota que seus dirigentes visitarão os presidentes da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP). Eles pedirão à CPI informações detalhadas sobre o relatório de ACM Neto e contratarão "consultorias técnica e jurídica" para analisá-lo. Também contatarão a Bolsa de Mercadorias e Futuros e a Federação Brasileira de Bancos. O relatório apontou prejuízo de R$ 779 milhões para 14 fundos suspeitos de desvio de recursos com fins políticos.

Francisco da Costa e Silva, advogado do Sindicato Nacional das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, não quis adiantar qual será a medida judicial que os fundos adotarão. "Isso (o relatório) é uma desmoralização. Houve vazamento de informações erradas e truncadas", reclamou.

À tarde, Pinheiro disse que o relatório só traz parte das operações. "É um relatório-saci, com uma perna só", ironizou. "Teve pouco critério técnico e foi feito sem que fôssemos consultados. Jogou um mar de lama em cima de nós. Como na guerra: destroem um prédio cheio de civis e depois dizem: a gente pensou que fosse um bunker..." Ele afirmou que há cerca de dois meses a instituição foi acusada de operar irregularmente com os Bancos Rural e BMG, mas provou que tudo foi dentro da lei.