Título: Campanha de câncer de pele é a maior já feita
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/12/2005, Vida&, p. A23

Ontem, 1.500 dermatologistas fizeram mais de 40 mil diagnósticos gratuitos. Nova pesquisa aponta risco das queimaduras de sol

Ontem, dia da 7ª Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Pele, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), 1.500 profissionais atenderam cerca de 40 mil pessoas, em 160 pontos do País, entre hospitais, parques e praças. Os pacientes que receberam diagnóstico de câncer de pele foram encaminhados para tratamentos, também gratuitos. A campanha foi a maior de todas feitas até agora. No ano passado, mil dermatologistas fizeram 30 mil atendimentos. Com as informações das consultas, a SBD vai criar um mapa da doença, identificando, por exemplo, as regiões de maior incidência. Tamanha mobilização coincide com a divulgação de duas novas pesquisas sobre o assunto. Elas comprovam uma postura médica cada vez mais radical em relação à proteção solar. Uma delas identificou o número de queimaduras da pele pelo sol como o principal fator de risco para o melanoma, um dos tipos mais agressivos de câncer. "Quem teve mais de trinta queimaduras (quando a pele descasca) tem 11,4 vezes mais chance de ter melanoma em comparação com quem não teve queimaduras, independente da cor da pele", explica o dermatologista Lúcio Bakos, coordenador da campanha da SBD e autor da pesquisa, publicada no International Journal of Dermatology .

O estudo, feito com 206 voluntários na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, também concluiu que a pele clara faz com que o risco de melanoma seja 2,7 vezes maior em relação à pele escura. Quem tem sardas, apenas 2,3 a mais em relação a quem não as tem. "É a prova de que uma pessoa com a pele clara e que se protege do sol tem muito menos chance de ter melanoma do que aquela de pele escura e que não se cuida", diz Bakos.

O segundo trabalho prova que o organismo produz vitamina D mesmo sob a proteção de filtros solares. Assim, aqueles famosos minutos de exposição desprotegida ao sol, recomendados por alguns médicos para combater osteoporose em adultos e raquitismo em crianças, são inúteis. "Não existe proteção total. Os poucos raios que passam pelo filtro já são suficientes para o corpo fabricar a vitamina", explica o dermatologista Marcus Maia, autor da pesquisa e coordenador da campanha em São Paulo. Não há filtro que bloqueie os raios solares. O fator 15, por exemplo, filtra 93% dos raios. O 60, 98,4%.

A radiação solar é formada por raios UVB e UVA. Os UVB são mais intensos das 10 às 15 horas. Os UVB, além de mudarem as estruturas das células, são os principais responsáveis pela fabricação de vitamina D no corpo. Com o sol, a vitamina D é ativada na pele. A vitamina cai na corrente sanguínea, é modificada quimicamente no fígado e nos rins e, por fim, facilita a absorção no intestino do cálcio e do fósforo, minerais fundamentais para o organismo. Sem a vitamina D, uma glândula é estimulada a buscar cálcio e fósforo nos ossos. A pesquisa foi feita com cem pessoas, com idades de 35 a 60 anos, saudáveis e divididas em dois grupos. Um não se protegia, outro não saia de casa sem proteção adequada - filtro com fator acima de 15 e chapéu.