Título: G-20 ficará unido, apesar das desavenças
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2005, Economia & Negócios, p. B4

A Argentina questiona a estratégia do Brasil na conferência da Organização Mundial do Comércio (OMC). Temendo ser alvo de pressões que dividam o grupo, o G-20 (grupo de países emergentes) reuniu-se ontem para tentar definir estratégias para o encontro ministerial que começa hoje e o chanceler Celso Amorim apresentou sua proposta. "Não haverá acordo sem o G-20", disse o ministro aos representantes dos demais países. Os argentinos não se queixaram do Brasil, mas disseram discordar da forma como o Itamaraty conduziria o debate em relação à proposta de tentar fazer avançar o debate sobre produtos sensíveis e que serão mantidos com certas barreiras na Europa, Estados Unidos e Japão. O tema deverá ser levantado hoje pelo governo argentino em reunião do G-20, em Hong Kong.

Os europeus querem manter cerca de 200 produtos com tarifas mais elevadas. Mas Brasil e Estados Unidos alertam que somente aceitarão 20 produtos e, mesmo assim, com regras especificas de como serão tratados. Para um alto negociador argentino, o Brasil quer negociar produtos sensíveis sem saber como serão cortadas as tarifas dos demais produtos agrícolas.

Não há consenso sobre as fórmulas que regulamentarão esses cortes. Os europeus aceitam redução média de apenas 39%; o G-20 quer corte de 54%.

O problema é que, no caso da pauta de exportações da Argentina, todos os produtos estarão na lista dos produtos sensíveis dos países ricos, como carne e trigo. Buenos Aires teme que a definição dos produtos sensíveis em Hong Kong comprometa o modelo exportador argentino no setor agrícola. Por isso, acha que, antes, é preciso saber como ficará a regra geral das negociações.

Apesar das diferenças entre Brasil e Argentina, o G-20 concluiu ser preciso manter a união do grupo nas negociações. O projeto é de manter também a pressão por progressos, mesmo pequenos, na área agrícola. Para um delegado sul-africano, os países do G-20 serão "cortejados" nos próximos dias. "Haverá uma tentativa de dividir os países em desenvolvimento com propostas, principalmente da Europa."

Kamal Nath, ministro do Comércio da Índia, afirmou durante a reunião que o G-20 deveria defender avanços em Hong Kong, mas que sejam progressos específicos. Leyla Rashid, chanceler do Paraguai, aponta que Hong Kong não será o fim da Rodada da OMC. "Mas é aqui que precisamos dar impulso importante e, para isso, o G-20 precisa se manter unido."

Para a maioria dos membros do bloco, o certo é que não pode haver um avanço nos debates sobre produtos industriais sem avanços no capítulo agrícola. Durante o encontro de ontem, Amorim contou aos demais membros do G-20 como tem sido suas reuniões com os Estados Unidos. Disse que Washington nunca se recusou a falar em uma melhor oferta para cortes de subsídios. Já os europeus insistem que não podem cortar mais tarifas que o que já propuseram.