Título: Washington pode acertar subsídios
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2005, Economia & Negócios, p. B5

O Congresso dos Estados Unidos deverá resolver nesta semana o problema dos subsídios ao algodão, condenados pela Organização Mundial do Comércio (OMC), informou ontem, ao Estado, o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Mike Johanns. A solução será um ajuste no orçamento. "Fizemos tudo que podíamos como executivo", disse o secretário, pela manhã, numa entrevista coletiva. "Mas a solução envolve a legislação sobre subsídios às exportações e isso depende do Congresso."

Os cortes provavelmente não bastarão para que os Estados Unidos cumpram a decisão da OMC, disse, à noite, o empresário Pedro Camargo Netto, diretor da Sociedade Rural Brasileira e ex-secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura.

Segundo Camargo, o principal incentivador do processo na OMC contra os subsídios americanos do algodão, o corte será de US$ 500 milhões e ainda sobrarão subvenções ilegais no valor de US$ 1,5 bilhão.

Mike Johanns e Robert Portman, o representante dos Estados Unidos para Comércio (USTR), tentaram mostrar, em duas entrevistas, que seu governo está comprometido com a reforma do comércio agrícola e o principal obstáculo ao progresso das negociações, nesse tema, é a resistência da União Européia (UE).

O secretário da Agricultura reafirmou a posição de seu governo a favor da eliminação completa dos subsídios à exportação agrícola até 2010. Os europeus, até ontem, se opunham à fixação de um prazo.

Portman foi mais longe na tentativa de mostrar os europeus como grandes adversários da reforma do comércio agrícola. Sem mencionar diretamente a União Européia, chamou de cinismo a tática de "se esconder atrás da erosão tarifária" para evitar a abertura de mercado.

Por trás desse palavreado, a história é simples. Os europeus concedem a algumas ex-colônias da África, do Caribe e do Pacífico (o chamado Grupo ACP) preferências comerciais apresentadas como ajuda a países pobres. Mas algumas dessas preferências são meras extensões da política agrícola interna.

Um dos exemplos é o açúcar importado em condições preferenciais dessas ex-colônias, reexportado depois com subsídios iguais aos concedidos aos produtores europeus e recentemente condenados por juízes da Organização Mundial do Comércio.

O comissário de Comércio Exterior da União Européia, Peter Mandelson, tem argumentado que a reforma agrícola defendida pelo Brasil e por outros países do Grupo dos 20 (países emergentes, como Índia e Brasil) acabaria prejudicando os países mais pobres porque as preferências concedidas pela Europa a esses países seria erodida. Foi a isso que se referiu Portman com uma palavra raramente usada na diplomacia.