Título: EUA sugerem que Brasil recuse acenos da UE
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2005, Economia & Negócios, p. B5

O representante de Comércio dos Estados Unidos, Rob Portman, afirmou ontem que o Brasil não deve aceitar os sinais de concessões da União Européia (UE) nas negociações agrícolas da Organização Mundial do Comércio (OMC). No domingo, o comissário da UE, Peter Mandelson, acenou com flexibilidades para o Brasil, como no setor de carnes. "Isso não ajudará em nada o Brasil nas negociações" , alertou Portman. Com a reunião da OMC começando oficialmente hoje, toda a atenção se concentra no comportamento da UE e nas reações do Brasil e dos Estados Unidos. A Europa é acusada de bloquear avanços ao não apresentar oferta mais ambiciosa de cortes de tarifas de importação de produtos agrícolas.

Ontem, Mandelson voltou a indicar que não fará nova oferta. "O Brasil está saturado com o que oferecemos e não teria nem capacidade física de absorver tudo. Está na hora de dar um pouco também" , afirmou o europeu.

Mandelson indicou ao Brasil e à Índia, em conversas privadas, que poderia melhorar pontos periféricos das negociações agrícolas. Um deles seria a ampliação de cotas para carnes e outros produtos sensíveis. "Nossa oferta já oferece acesso real de produtos brasileiros ao mercado europeu. Só no setor de carnes, estaríamos importando 800 mil toneladas a mais de todo o mundo. O Brasil, por ser competitivo nesse setor, pode se beneficiar muito", afirmou a comissária de Agricultura da UE, Marianne Fischer B¿el.

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, confirmou a oferta de novas cotas da UE, mas indicou que a idéia não teria prosperado porque o País quer um acerto global sobre tarifas. Para o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, a idéia poderia ser boa se a UE indicasse o tamanho do aumento.

A sugestão de Portman para que o Brasil ignore o aceno europeu tem outro sentido, segundo observadores. Brasil e EUA se aliaram nas últimas semanas para pressionar os europeus a abrir seus mercados. Washington alega que só poderá cortar subsídios quando Bruxelas abrir o seu mercado.

Um eventual acordo entre a UE e os emergentes, portanto, deixaria os EUA isolados e teriam de enfrentar a pressão pelo corte de subsídios.