Título: Mercado crê em corte de 0,5 ponto
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/12/2005, Economia & Negócios, p. B8

O mercado financeiro chegou às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa hoje e termina amanhã, certo de que o ritmo de corte dos juros continuará mesmo em 0,5 ponto porcentual. "Eu já encaro este fato como algo líquido e certo", disse o economista da corretora Concórdia, Elson Teles. A taxa, no cenário da pesquisa semanal Focus, divulgada ontem pelo Banco Central (BC), recuaria dos atuais 18,5% e terminaria o ano em 18%, menor nível desde os 17,75% de dezembro de 2004. A inflação corrente e futura, na visão de Teles, ainda não abriu o espaço necessário para o Copom ser mais ousado na redução dos juros.

"A projeção do BC para a inflação do próximo ano, no cenário de mercado, deve estar próxima dos 5%." Como o porcentual é 0,5 ponto porcentual maior que a meta central de 4,5% fixada para 2006, o economista não vê motivos para uma aceleração dos cortes de juros.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro, na visão do economista da corretora Concórdia, veio em nível alto. "O porcentual de 0,55% apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é 0,15 ponto porcentual maior do que se esperava antes da última reunião do Copom", comentou. Os resultados positivos da inflação medida pelo IPC da Fipe e do IGP-M não deverão mudar a decisão dos diretores do BC na última reunião do ano do Copom. "O que importa mesmo para eles é o IPCA. Os outros índices não têm tanto peso."

Teles acha que o Copom deverá manter o ritmo de cortes de juros de 0,5 ponto porcentual até meados do próximo ano. "O Copom pode chegar em julho com os juros de volta aos 16% e resolver dar uma parada nas reduções ou mesmo reduzir um pouco mais a velocidade das quedas." Ele lembrou que nos Estados Unidos o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) costuma não reduzir os juros perto de eleições como as que ocorrerão em outubro do próximo ano no Brasil.

Neste cenário, o economista da corretora Concórdia acha pouco provável que o Produto Interno Bruto (PIB) possa ter uma expansão de 5% no próximo ano. "Não vejo isso. Trabalho com crescimento entre 3% e 3,50%." Ele admite, no entanto, que poderá chegar às vésperas das eleições de outubro crescendo em torno de 5% na margem. "A média do ano, porém, não chegará a este porcentual." Na pesquisa Focus, a projeção de crescimento do PIB para este ano voltou a cair, passando de 2,66% para 2,52%.

Para este ano, Teles disse que as previsões de crescimento dependerão da revisão que o IBGE fará do resultado do PIB no terceiro trimestre. "Se a queda for mantida em 1,2% mesmo, o crescimento ficará próximo dos 2,3% esperados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)." Em caso de revisão para uma contração de apenas 0,8%, o economista acredita que o PIB poderá mesmo fechar o ano em cerca de 2,5%.

A pesquisa da Agência Estado também revela a aposta dos analistas do mercado na queda de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic. Dos 47 profissionais consultados, 37 acreditam que os juros terminarão o ano em 18%. Apesar da queda, o Brasil continuará na liderança do ranking dos maiores juros reais do mundo. Na última reunião do Copom, a taxa, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, caiu para 13,1% ao ano. Mesmo assim, estava bem acima dos 6,8% do México e 5,9% da Turquia.